Baseado no comic book com a mesma designação, Batman: Hush relata o encontro do super-herói com uma nova ameaça. Um episódio que joga com a descoberta da identidade de um novo vilão – Hush – e o crescimento pessoal de Bruce Wayne. No entanto, o filme aparenta perder-se na ilustração da relação de Batman e Catwoman.
Batman Hush é uma história aos quadradinhos de 2002-2003. Foi escrita por Jeph Loeb, desenhada por Jim Lee, colorida por Alex Sinclair e finalizada por Scott Williams. Em 2019 transforma-se em mais um filme do DC Animated Movie Universe. Desta vez, sobre a alçada do realizador Justin Copeland, tenta seguir ao máximo a narrativa original. Não obstante, transparece o pouco esforço aplicado no processo de animação.
Podíamos dizer que a estrutura da narrativa, por si só, é bastante simples. Batman é confrontado com um novo vilão, totalmente desconhecido. Cabe-lhe descobrir quem se encontra por trás da máscara, perceber o porquê de este fazer o que faz e tentar reduzir os danos das suas ações. Uma sequência que não surpreende os fãs de super-heróis. Aquilo que diferencia este vilão é o conhecimento que possui sobre a verdadeira identidade de Batman.
Hush surge como um perseguidor, acompanha passo a passo a vida do herói e procura sabotar tudo aquilo que ele conquista. Esta sabotagem leva, inclusive, Bruce Wayne para o hospital. “Batman can go to the hospital? No, but reckless playboy Bruce Wayne can” – a menção ao menino riquinho que nunca muda. Para além disso, permite a referência a uma quantidade absurda de outros vilões da DC, algo visto como um serviço aos fãs.
A primeira referência é Enigma, personagem obcecada em cometer crimes, tendo por base quebra-cabeças e jogos de palavras. Encontramos também Joker, um génio do crime, muitas vezes visto como um psicopata repleto de humor sádico, e a namorada, Harley Quinn. Não podia faltar Bane, mencionado como “o homem que quebrou o morcego”, que movido a veneno ganha uma força extraordinária. E, por fim, temos Poison Ivy, a personagem feminina que utiliza toxinas de plantas nos crimes.
No entanto, não só da presença de vilões se faz este filme. Batman: Hush conta também com a presença do fiel companheiro de Bruce Wayne, Alfred Pennyworth, dos aprendizes, Nightwing e Batgirl, e do filho, Damian Wayne. Para além disso, permite, uma vez mais, avaliar a engraçada oposição entre Superman e Batman. Por um lado, um alienígena repleto de super poderes – super força, capacidade de voar, super velocidade, visão de calor, visão de raio-x, audição sobre-humana e habilidade de cura. Por outro, o homem mais rico de Gotham que investe em equipamento de luta.
De qualquer das formas, a relação que é explorada até ao tutano é a de Batman e Catwoman. Encontram-se conversas paralelas desnecessárias e o típico jogo do gato e do rato, ou seria melhor dizer, do gato e do morcego – “Catwoman: I am not done with my demands. Tic, tac, trail is going cold”. Apesar de corresponder a uma exploração exaustiva, cumpre o propósito, encontrar um motivo para que Bruce Wayne repense no seu trajeto, se distraia e reflita sobre o modo como os seus atos podem condicionar a vida de quem mais ama.
Por algum motivo, aquilo que parece verdadeiramente condicionado neste filme são os gráficos. Ao prestar alguma atenção, facilmente identificamos personagens e movimentos completamente replicados.
Aquando de uma slowdance entre Bruce Wayne e Selina Kyle, todos os casais se movimentam no mesmo sentido e ao mesmo tempo. Mas, no encontro de Bruce Wayne com Clark Kent, as duas personagens parecem irmãos gémeos. Ambos apresentam similar formato de rosto, estilo e cor de cabelo, rasgo e cor de olhos, sobrancelhas idênticas e roupa extraordinariamente parecida. Aparentemente, aquilo que os diferencia são a utilização de óculos ou os seus formatos de super-heróis.
Ainda assim, a obra consegue contagiar alguns sorrisos com o humor subtil que compreende. Vemos isto nas tentativas constantes de se fazer trocadilhos com a condição de Catwoman: “Here Kitty, Kitty”, “Purrrrrrrfect”. Além disso, é irónica a surpresa de Joker ao ver Batman combater outras vilões: “You’re seeing another villain already? I thought we had something special”.
Para além de tudo isto, o filme conta com atores queridos do público em geral. Estes são, especialmente, Jason O’Mara (Batman), Jennifer Morrison (Catwoman), Jerry O’Connell (Superman), Rebecca Romijn (Louis Lane) e Peyton List (Batgirl).
Uma característica admirável de Batman: Hush é o facto de não exigir conhecimentos profundos sobre o universo da DC para o entender. E ainda, mesmo que muitos possam pensar, estas narrativas não são para crianças. Apesar de ser apresentado em desenhos animados, contém referências sugestivas e discussões (ainda que disfarçadas) de assuntos complicados.
Poderia ser só mais um do Batman, e assim é. No entanto, não fica aquém.
Título Original: Batman: Hush
Realizador: Justin Copeland
Argumento: Erine Altbacker, Jeph Loeb, Jim Lee
Elenco: Jason O’Mara, Jennifer Morrison, Jerry O’Connell
USA
2019