Case Study 01 é o novo álbum do cantor canadiano Daniel Caesar. De uma forma brilhante, reúne imensos talentos de vários géneros musicais para colaborarem com ele nesta obra. Numa bela combinação de melodias, o artista consegue reunir uma coletânea de emoções que só o R&B nos transmite.

Entropy” é a entrada do projeto. A sua letra inovadora, que usa as leis da termodinâmica como metáfora para o passar do tempo e os seus dissabores, é muito bem acompanhada pelo teclado suave que em tudo combina com a voz de Daniel.

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O segundo tema, “Cyanide”, começa com harmonias muito leves de fundo. O timbre grave do cantor vai progredindo para se tornar num falsete tremendo no início da segunda quadra. Já não é novo que o registo vocal de Daniel Caesar é capaz de muito, e este tema é apenas um dos vários que o prova.

Love Again” introduz uma nova artista, Brandy. A progressão melódica é, no mínimo, interessante. O baixo que suporta todo o tema é rico e as vozes dos dois combinam como mel num chá de limão. Talvez dos temas mais estranhos da obra, a melodia não é propriamente intuitiva, mas a letra é, sem dúvida, trivial, já que fala muito do amor e da paixão desmedida entre duas pessoas que, no fundo, só querem estar juntas.

Segue-se mais uma colaboração, desta vez com Pharrell Williams. Podemos dizer que não é só singles felizes que o produtor consegue criar. O tema, em si, pouco acrescenta ao projeto, é um pouco monótono e não faz jus aos seus irmãos metafórico musicais. “Frontal Lobe Muzik” torna-se, assim, no típico “é sempre arroz”.

Open Up” é uma das grandes canções de Case study 01. Desde as harmonias que marcam o cunho de Caesar e afirmam a sua doçura, à progressão harmónica com bases claras no R&B e Soul, esta música consegue ser perfeita para a banda sonora de um novo Fifty Shades of Grey. A letra acompanha perfeitamente este clima escaldante e é, sem dúvida, uma das obras primas do álbum.

Segue-se “Restore The Feeling”. A genialidade das harmonias só podia ter sido causada pelo mestre, Jacob Collier. Nada mais se esperava deste master mind, e o resultado está à audição de todos. Uma mistura de vozes, ora com efeitos ora cruas, perfeitamente combinadas que resulta num êxtase de sons que “primeiro estranha-se, e depois entranha-se”.

As colaborações com génios da música não param por aqui. A próxima na fila é “Superposition”, que conta com a mão de um mestre das cordas, John Mayer. O cunho do guitarrista é notório nos riffs que se vão ouvindo ao longo da música, e não podia haver um melhor duo.

Too Deep To Turn Back” traz de volta a calma e a doçura no timbre do canadiano. A voz de Arianna Reid no refrão é um belo toque que confere ao tema uma sensualidade e uma suavidade que com Daniel talvez ficasse atenuada. Isto nos primeiros quatro minutos. No último minuto, a música muda completamente de forma, como se começasse outra obra totalmente diferente. Isto porque a última parte refere-se a morte e salvação, e todo o tema acompanha essa energia mais escura e negativa, daí o seu título.

Complexities” é aquela faixa que nem aquece, nem arrefece. Não está mal, mas também não está ao nível de muitas outras neste álbum. A melodia é monótona, progressão ipsis. Não traz nada de novo, mas contribui para manter a coerência do projeto.

Daniel decidiu terminar com “Are You Ok?”, talvez uma questão que lhe tivessem perguntado, quando ele estava mais cabisbaixo. A música continua e a estória também. A sua “bride to be” deixou-o, talvez pela sua instabilidade emocional. Ao longo da letra vai havendo referências à primeira música, tornando um álbum num ciclo muito bem produzido e, no fundo, bem feito. Mais uma vez, a letra acompanha a melodia e quando a parte mais melancólica da música se aproxima, há uma volta de 180º. Passa do branco para o preto, deixando-nos perdidos nos cinzentos. É esta parte que torna a música em ouro sobre azul.

No fundo, Case Study 01 é uma bela obra de R&B contemporâneo, que faz jus ao artista e ao trabalho que tem desenvolvido. Caesar criou o cofre, a chave de ouro para o abrir e atirou-a aos lobos do R&B, para ver se alguém se atreve a competir. Esperemos que se atrevam e que superem. Por enquanto, ficamos nós com um belo estudo de caso.