Hoje, dia 9 de agosto, seria o 150º aniversário de Júlio Brandão. O famalicense não se restringiu à poesia: foi cronista, comentador literário, dramaturgo, professor, jornalista e arqueólogo. O autor conseguiu conquistar renome no mundo literário nacional.

Júlio de Sousa Brandão nasceu a 9 de agosto de 1869 no coração da cidade de Famalicão. Já no Porto, licenciou-se na Escola Infante D. Henrique, na qual foi nomeado para professor do ensino técnico. A sua capacidade pedagoga ficou ainda mais patente na publicação em torno da didática literária. Escreveu obras como: Leituras Portuguesas (1907), Livro de Leitura para as Classes I e II: ensino secundário (1928) e Livro de Leitura para a 4.ª Classe.

Em 1919, passou a ocupar o cargo de diretor do Museu Municipal do Porto, onde ficou evidenciado o seu interesse pela estética. Isto vê-se nomeadamente em Os Melhores Quadros do Museu Municipal do Porto (1927), Pintor Roquemont (1929) e Miniaturistas Portugueses (1933).

Para além disto, foi sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, da Academia Nacional das Belas Artes, do Instituto de Coimbra e da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Enquanto jornalista, teve uma coluna regular, de 1920 a 1947, n’ O Primeiro de Janeiro.

Iniciou a carreira literária com o livro de poemas O Livro de Aglais. Editou depois mais quatro: Saudade, O Jardim da Morte, Nuvem de Ouro e Cantares.

O Livro de Aglais (1892) destaca-se por contar com uma carta-prefácio de Guerra Junqueiro. A publicação levantou uma profunda polémica devido ao uso do verso alexandrino (verso dodecassilábico) e à temática. No entanto, Trindade Coelho, falecido escritor, magistrado e político português, defendeu a obra. “Livro que me dá, entre os seus camaradas, a fresca, viçosa e perfumada sensação de um lírio em jarra de oiro, nesse livro que é um encanto, um mimo de simplicidade e de ternura, sentido com vivo afeto e executado com uma arte refinadíssima, aí amor humano abre à luz do sol?“, afirmou.

Na crítica literária e no memorialismo, considerado na altura um género novo – um comentário literário – reuniu tantas outras obras. São exemplo: Poetas e Prosadores, Bustos e Medalhas, Galeria de Sombras, Desfolhar de Crisântemos e Recordações dum Velho Poeta.

Juntamente com Raul Brandão, também ele jornalista e escritor português, estabeleceu uma mútua colaboração. Isto com contos (principalmente na Revista Ilustrada), na hagiografia (Vida de Santos) e no teatro, com a peça A Noite de Natal. Representada no Teatro de D. Maria II a 13 de janeiro de 1899, corresponde a uma obra levemente inspirada em Eça de Queiroz. Conta uma irónica tragédia vivida em ambiente de consoada.

Ainda enquanto contista, escreveu Farmácia Pires, conto publicado inicialmente na Revista de Portugal (1892), dirigida por Eça de Queirós. Foi, mais tarde, publicado em livro (1896). Escreveu ainda Maria do Céu, Perfis Suaves, Figuras de Barro, Memórias dum Amoroso e À Cata do El Dourado. Este último é o único romance do autor, com edição póstuma.

Durante anos após a sua morte e até aos dias de hoje, Júlio Brandão continua a ser editado e a ser objeto de investigação académica. Editou-se, por exemplo, Obras de Júlio Brandão (prosa e poesia), em dois volumes, na coleção Obras Clássicas da Literatura Portuguesa, séc. XX, Lello Editores.

A atividade literária do autor foi alvo de várias homenagens promovidas pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão. Em 1950 (em parceria com a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto), ergueram-lhe a “memória em granito e bronze”. A homenagem, mais conhecida por Glorieta, está implantada no parque 1º de Maio. Mais tarde, em 1969, comemorou-se o centenário de nascimento e, em 1992, o centenário da publicação O Livro de Aglais. Por fim, em 2005, foi homenageado no Gentes da Terra Famalicão-Ciclo de Conferências.

Este ano, no dia do aniversário do escritor, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, descerrou uma placa comemorativa do seu nascimento, localizada na rua de Santo António, rua onde o poeta nasceu. De seguida, foi ainda depositada uma coroa de flores na Glorieta da rotunda 1.º de Maio.