2 de agosto de 1929 marca a data de nascimento de José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos – Zeca Afonso – que completaria hoje o seu 90º aniversário. Este continua a ser um dos maiores ícones da cultura musical e revolucionadores de Portugal.
Os seus primeiros 3 anos foram passados em Aveiro, sua terra natal e desde tenra idade foi viver para Angola, com os seus pais – um juiz e uma professora de instrução primária. Foi neste país que fomentou a sua ligação com a natureza africana, que se refletirá ao longo da sua vida. Em 1938 regressa a Portugal, onde acabou a sua formação primária. Vivendo sob o regime salazarista, viu-se forçado a alistar-se na Mocidade Portuguesa, uma organização juvenil do Estado Novo com o objetivo de tornar a juventude devota à Pátria, deveres morais, cívicos e militares. Uns anos mais tarde entrou para o ensino superior, tirou o Curso Geral dos Liceus na Universidade de Coimbra, onde se integrou na Tuna Académica e fomentou o seu canto. O ambiente revolucionador e de mudança de Coimbra veio a marcar José Afonso.
Em 1953, grava o seu primeiro disco Fados de Coimbra, influenciado pelas correntes de mudança, pela qual o distrito é conhecido até hoje – como é exemplo a greve estudantil, realizada em maio deste ano, em nome de reformas no ensino, uma luta contra a desigualdade no sistema educativo nacional. Ao longo dos anos 60 foca a sua atenção na crise académica de Lisboa e lança Coimbra Orfeon of Portugal. Neste período, escreve as suas primeiras músicas de intervenção, acompanhado por Rui Pato – amigo estudante de medicina – com quem grava inúmeros temas e percorre o país em atuações. Desde então a sua música surge como uma “arma” contra o regime opressor de Salazar.
Muitos dos tópicos das suas músicas fincavam-se no espírito revolucionador e faziam alusão à opressão do capitalismo e da miséria comum do país. Estes temas integravam o disco Baladas de Coimbra que acabou por ser vítima da Censura.
É em 1964 que José ganha inspiração para escrever a icónica Grândola Vila Morena. A música que serviu de sinal para o Movimento das Forças Armadas na icónica revolução de 25 de abril de 1974 permanece, 55 anos depois, como uma das músicas mais marcantes e refletoras do período revolucionário.
A vida de Zeca Afonso foi marcada, sobretudo, pela luta contra o regime fascista do Estado Novo. Este associou-se a movimentos políticos como a Liga de Unidade e Ação Revolução e ao Partida Comunista Português, o que fez com que fosse eventualmente preso pela PIDE. Posteriormente, continua a gravar álbuns como Cantares do Andarilho, com o qual adquire vários prémios – Melhor Disco do Ano e Melhor Interpretação. Devido à censura, os jornais referiam-se a José Afonso pelo anagrama Esoj Osnofa.
O cantor e revolucionador sofria de esclerose lateral amiotrófica, que se veio a manifestar cada vez mais ao longo da sua vida, ao ponto de não conseguir completar o seu último álbum Galinhas do Mato. A 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, José Afonso morre acompanhado pela sua mulher. O funeral ocorreu na mesma cidade. O evento aglomerou uma imensidão de pessoas – cerca de 20 mil – que foram prestar tributo ao cantor e compositor.
Não é preciso um artigo para expor o quão importante foi Zeca Afonso para a história de Portugal. Os seus marcos estarão permanentemente fixados nas mentes e espíritos de várias gerações – passadas e futuras. A sua influência mostra como a música não serve apenas para entretenimento; serve, igualmente, para refletir a sociedade, os seus problemas, as suas esperanças e angústias. Zeca Afonso: 90 anos de espírito revolucionário.