Depois de cinco anos do merecido descanso, a banda americana regressa aos palcos ao som do mais recente e inesperado álbum Let’s Rock. Contendo em si características que fazem reviver os tempos primordiais da carreira de The Black Keys, este é o disco onde o grupo deixa enaltecida a simplicidade e a ausência de alguma criatividade.

Desde cedo que os The Black Keys ensinaram o público que, para os ouvir, tem de existir uma predisposição para se ingressar numa viagem sonora que oscila entre dinâmicas perfeitas, ritmos inigualáveis, batidas precisas e harmonias que viciam. Energia e vibração também fazem parte deste ambiente, sendo das qualidades que mais ilustram a banda, o que lhes permite ter um perfil destacável e carismático. Numa atmosfera tão cativante como esta, não será difícil prever que esta se trata de uma viagem com bilhete apenas de ida.

Alysse Gafkjen

Thickfreakness”, “Brothers” e “El Camino” são alguns exemplos de álbuns cujas produções são resultados fiéis desta descrição do grupo. Em contrapartida, em Let’s Rock o cenário altera-se significativamente.

Ao invés de uma explosão rítmica, o álbum presenteia-nos com melodias mais simples e monótonas, sem muitos arranjos ou esforço técnico. Por outras palavras, é como se tivéssemos acesso ao lado menos efervescente dos The Black Keys: um voltar às origens e ao som básico do rock que os uniu.

Claramente houve uma mudança de inspiração na produção deste oitavo álbum de estúdio da dupla. Contudo, o facto de estarmos perante um disco “diferente” do habitual, não significa perda de brilhantismo.

À semelhança de uma jam, Let’s Rock reúne em si a combinação de 12 faixas não muito exigentes que soam bem ao ouvido, com composições e letras pouco elaboradas. “Shine A Little Light” é a música de abertura do disco e com ela consegue sentir-se a potência dos The Black Keys a romper.

Solos de guitarra repetidos, batidas suaves e a voz de Daniel Auerbach a soar como se de um sussurro se tratasse são os elementos que fazem a música de abertura. Esta é capaz de ser uma das faixas mais explosivas dentro de um álbum tão pacífico como este. Tal como acontece com a guitarra, também o refrão se repete e isso torna a música identificável e memorável (“If evil lays his hands on me / Shine a little light on my soul / Show me thing I cannot see / Shine a little light on my soul”).

Lo/Hi” ganha o título da melhor música do álbum. Nesta faixa é possível sentir-se a verdadeira essência de The Black Keys, desde as melodias iniciais e solos familiares às distorções e passagens bem-feitas de euforia para a calmaria. A repetição de ritmos joga a favor da faixa, na medida em que consegue tornar-se de tal forma icónica que é impossível ser aborrecida. Relativamente à letra, ela fala-nos, tal como o próprio nome indica, dos altos e baixos, dos sabores e dissabores que a vida nos dá (“You get low, like a valley / Then high, like a bird in the sky / You get low, cause you’re angry / Low high, high low”).

Outras músicas que merecem reconhecimento em Let’s Rock e que contribuem para existir uma vertente mais dinâmica no disco são “Every Little Thing”, “Get Yourself Together” e “Go”. No que toca à primeira, esta é uma faixa que se destaca pela simplicidade na sua construção.

Sem grandes variações de ritmo, a música foca-se nos solos e nas distorções arrojadas que se ouvem ao longo de toda a faixa. Isto confere um toque de Rock mais “pesado”, mais sonoramente parecido com os trabalhos anteriores de The Black Keys.

Relativamente à “Get Yourself Together” pode-se dizer que encarna uma das faixas mais dançáveis do álbum. Divertida e animada, a música oculta uma letra amorosa que se esconde por detrás dos ritmos mexidos (“I’ll do whatever you do / Love me and I’ll be lovin’ on you / Treat me sweetly like I want you to”).

Por último e não obstante, “Go” arrasta consigo toda a pujança possível, sendo como a “alma da festa” de Let’s Rock. O trabalho intercalado de bateria e guitarra fica bem conseguido com as diferentes melodias que conseguem fazer em conjunto.

Eagle Birds”, “Sit Around And Miss You” e “Under The Gun” são as músicas mais enfadonhas do álbum. Por manterem sempre os mesmos ritmos e batidas, acabam por cair na monotonia e pouco ou nada acrescentam ao disco. Variam num ou noutro momento, mas não conseguem ter o mesmo poder de encaixe comparativamente às restantes. “Sit Around And Miss You”, em particular, destoa completamente de Let’s Rock no seu geral, provavelmente por ser bastante singela e repetitiva de início a fim.

Em considerações finais, Let’s Rock é um álbum de destaque da discografia de The Black Keys por ser simples de mais, ou seja, por não apresentar grandes euforismos que surpreendam. No entanto, a obra não deixa de ser coesa e consistente se formos avaliá-la na íntegra.

Relativamente à performance da dupla neste disco, verifica-se que tanto Daniel Auerbach como Patrick Carney dão um passo em direção ao passado e tentam ressuscitar o seu trabalho inicial: um Rock simples e básico. Apesar desta opção para Let’s Rock, podemos ver esta escolha como um aquecimento para algo maior que se possa avizinhar, o que pode mantem os fãs interessados para o que se segue.