Em 1943, Antoine de Saint-Exupéry escreveu um livro para os que querem crescer e para os que desejam voltar. O Principezinho é um clássico que acompanha a estante de qualquer um. E, para outros – onde me admito colocar – é o livro que fica no fundo da mala, porque nunca se sabe quando é que precisamos de ouvir palavras de um amigo.
Ambicionamos crescer, tudo parece mais entusiasmante. Olhamos para os nossos pais, para os nossos primos, para os irmãos mais velhos e para os alunos do secundário e pensamos “um dia vamos ser assim”. E isso deixa-nos satisfeitos. Mas, um dia, viramos os pais, os primos, os irmãos, os alunos… e desejamos baixinho, à noite, voltar a ser crianças.
As quase 100 páginas que retratam a “pequena vida melancólica” de um rapazinho loiro são escritas de forma simples e cuidada. Contudo, O Principezinho esconde metáforas que decidimos decifrar ou redescobrir nas diferentes alturas em que nos lembramos de tirar o pó ao livro.
Um dia ou outro decidimos ser cogumelos. Caso se esteja a perguntar, cogumelos são as pessoas que se olham ao espelho de manhã e dizem “eu sou um homem a sério”. Não há nada mais triste que ser um cogumelo. A única parte boa de ser um cogumelo é quando alguém nos avisa “estás a ser um cogumelo” e nós pensamos: “querer uma ovelha é sinal que se existe?”. Se a resposta for “sim” respiramos de alívio porque fomos a tempo. Já se a resposta for “não”, sabemos que naquele momento o nosso maior amigo – nós próprios – foi esquecido e “não há nada mais triste que esquecer um amigo. Nem toda a gente teve um”.
Num livro para “crianças” encontramos críticas à sociedade. Os crescidos esquecem-se de “cativar” – que, para os mais desatentos, significa “criar laços”. Os rituais são também esquecidos e, quando lembrados, são para as coisas que nos fazem esquecer. Facilmente acordamos todos os dias para ir para a escola, a universidade e para o trabalho. Mas aquele café de sexta à noite com os amigos vai ser esquecido e quebramos esse ritual. E, se for sem avisar, como é que vamos preparar o coração para quem nos visita? Nunca vamos ser felizes às três porque não esperamos ninguém às quatro horas.
Às vezes até esquecemos que há flores únicas por aí e que isso é suficiente para se ser feliz. O foco fica nos pequenos problemas da vida como ter uma foto para publicar no Instagram quando a maldita rede social está em baixo.
Outra lição que encontramos em O Principezinho é a que não há só sementes boas, como as das rosas. Há sementes más. Mas, quando um pássaro transporta no bico a semente que acaba por cair no nosso planeta, nunca saberemos se é uma semente boa ou uma semente má. Temos de a deixar crescer, e um dia saberemos. Às vezes até podemos achar que é tarde para cortar o raio da erva daninha, mas “é tudo uma questão de disciplina”.
São conversas simples sobre um menino que fugiu de uma rosa porque era demasiado novo para a saber amar, que pediu ajuda à cobra para voltar e que conheceu cogumelos. Há um menino que conheceu uma raposa que o lembrou que a rosa era única, que lhe falou dos rituais, que lhe falou de cativar. Há uma raposa que gosta de campos de trigo porque o trigo é dourado como o seu cabelo. Há um menino que viu a vida com o coração.
“O essencial é invisível aos olhos”, pessoalmente, considero a frase mais sem significado do livro. Mas se um dia quiserem perceber o que vos escrevo, leiam O Principezinho com o coração. E juro, juro que vai ser como aprender a ler pela primeira vez. Vai ser como ver 43 pores do sol e como um abraço num dia triste.
Título Original: Le Petit Prince
Autor: Antoine de Saint-Exupéry
Editora: Éditions Gallimard
Géneros: Literatura Infantil, Novela, Fábula
Data de Lançamento: 6 de Abril de 1943