“Fiu, fiu, fiu!” – Deveria haver uma melhor representação para aquela que é uma das músicas mais icónicas de uma série televisiva. No entanto, não o havendo, faz-se a evocação da melhor maneira possível. Viva às onomatopeias! Verão Azul, uma série de produção espanhola dos anos 80, chegou a Portugal em 1982 e conquistou as audiências.
Por si só, o enredo de Verão Azul é pouco complexo, assemelhando-se à série Os Cinco – conta as peripécias em torno de um grupo de amigos que se junta durante as férias na costa sul de Espanha. Com idades compreendidas entre os oito e os 17 anos, o crescimento de todos os elementos contribuí para abordar diversos tópicos.
O bando é composto por cinco meninos e duas meninas. Os rapazes são Tito (Miguel Joven), o mais jovem do grupo, Javi (Juan José Artero), líder do grupo, Quique (Gerardo Garrido), melhor amigo de Javi, Pancho García (José Luis Fernández) e Pirãna (Miguel Ángel Valero). Já as raparigas são Bea (Pilar Torres), irmã de Tito e Desi (Cristina Torres), amiga inseparável de Bea.
Além dos familiares destes jovens e alguns figurantes, destacam-se duas personagens. Um deles é Chanquete (Antonio Ferrandis), um velho marinheiro, a outra é Julia (María Garralón), uma pintora. Mas de que forma é que estas personagens terão um ponto em comum com um grupo de crianças? A resposta está no primeiro episódio: El Encuentro (O Encontro).
Resumidamente, Julia, como uma típica artista, procura um local de serenidade e inspiração, por isso, desloca-se para sul de espanha. Apesar de não haver uma referência concreta ao local, trata-se de Nerja, província andaluza de Málaga. Sem querer, torna-se amiga de Javi, Tito e Quique, que lhe apresentam o resto do grupo.
Mais tarde, deslocam-se todos para La Dorada, um barco encalhado em terra, onde vive o velho marinheiro, com intenções de a explorar. Aqui passam a conhecer mais um companheiro de aventuras. Chanquete encontra-se extremamente bem caracterizado, transparecendo uma sujidade tão típica, tão real e, por estranho que pareça, tão reconhecível.
Todos os episódios são marcados por mensagens de extrema importância. Entre elas temos “No mateis mi planeta, por favor” (“Não matem o meu planeta, por favor”), no segundo episódio da série. No quinto episódio ouvimos “A lo mejor” (“Talvez”). Por fim, temos ainda “Beatriz, mon amour” (“Beatriz, meu amor”), no sétimo episódio.
Em “Não matem o meu planeta, por favor” Tito e Pirãna encontram peixes mortos na praia e correm para avisar Chanquete. Por sua vez, o pescador reformado crê ser resultado da fabricação de produtos químicos. Sendo assim, decidem deslocar-se à Câmara Municipal para efetuar uma reclamação e criam o slogan “Operación planeta limpio” (“Operação Planeta Limpo”).
Tudo isto é uma tentativa de consciencialização e encorajamento de ações de proteção ambiental da população. Uma realidade repetida ao longo das décadas. Contudo, sem resultados palpáveis para um ecossistema estável.
Em “Talvez”, o grupo de amigos mostra-se indignado com as imposições e castigos dos pais e, por isso, decide que está no momento de se revoltarem. No entanto, apostam numa “greve” pacífica, um voto de silêncio para com os pais. Ao se aperceberem da falta de eficácia desta decisão, tentam outras abordagens até que chegam à resposta estandardizada – talvez.
É claro que os efeitos de uma revolta contra pessoas mais velhas pode resultar em consequências negativas. Mas este episódio mostra a capacidade de refletir sobre eventuais injustiças e de encontrar soluções criativas para mostrar a indignação por parte de crianças. Aponta, assim, que a juventude não é acrítica.
Já em “Beatriz, meu amor” tratam-se três assuntos diferentes: as paixões de adolescência, a oposição dos pais a tal facto e o surgimento da menstruação. Bea apaixona-se por um rapaz mais velho, Rafa. Após algumas saídas secretas, os seus pais proíbem-na a sair com ele. Apesar de não aceitar a regra de bom grado, a rapariga acaba por se aperceber de que seria o melhor a fazer.
No final do episódio, Bea tem a sua primeira menstruação, momento demarcado por uma grande ternura. A mãe, já entendedora do assunto, auxilia a filha em tudo o que pode. De seguida, vai ao encontro do marido e profere: “Beatriz ya es mujer” (“A Beatriz já é uma mulher”). A simpática conformidade do pai, o respeito dos amigos e a confusão do irmão mais novo tornam a cena icónica.
Nove miúdos, dois adultos, aventuras sem fim. Com caracterizações reais, mas risíveis, interpretações melhores ou piores, com um fundo de dramatismo a mais. Esta foi uma série que acompanhou gerações e lhes ensinou valores inigualáveis. Apesar da qualidade de visualização não ser a melhor, Verão Azul é recomendada a tudo e todos.
Título Original: Verano Azul
Realizador: Antonio Mercero
Argumento: Antonio Mercero, Horario Valcárcel, José Ángel Rodero
Elenco: Antonio Ferrandis, María Garralón, José Luis Fernández
Espanha
1981