Após o lançamento de 1, em 2017, Captain Boy revela o seu mais recente projeto, intitulado Memories and Bad Photographs. Com estreia na passada quinta-feira, este é um álbum onde o artista deixa uma janela aberta para um mundo inteiramente pessoal e uma reflexão introspetiva.

Tal como o próprio nome deixa a desejar, Memories and Bad Photographs é um título que torna transparente a intenção do artista em dar vida às memórias que já lá vão. Da mesma maneira que uma máquina fotográfica capta momentos distintos, este também é um disco que encarna cenários diferentes, à medida que as melodias são tocadas.

Telma Cardoso/ComUM

Telma Cardoso/ComUM

O recorrer de várias sonoridades musicais ao longo do álbum faz com que o enredo que está a ser contado aos ouvintes seja todo ele dinâmico, como se tratasse realmente de uma história. São oito faixas que ilustram esta viagem sonora ao lado nostálgico do cantor.

Song To My Dog”, a primeira música do álbum, é um tema que delicia não só pela mensagem que passa como também pela melodia ternurenta e calorosa. Sem fugir de um registo calmo e sereno, esta é uma faixa que se mantem fiel do principio ao fim, no sentido em que não manifesta grandes variações. Por assim ser, torna-se monótona, o que não invalida o facto de soar bem aos ouvidos quando aquilo que procuramos é um bocado de paz.

As músicas que mais se destacam nesta fita de memórias são “Rusty Smiles”, “Carminda” e “Treehouses”. A começar pela primeira, “Rusty Smiles” destaca-se pelo Soul que arrasta consigo. Com uma composição feita à base de batidas, dedilhados soltos, um baixo preciso e um teclado harmonioso, a voz de Captain Boy ganha vida neste ambiente que a projeta. Nunca abandonando o tom determinado com que canta, o artista aborda um presente enferrujado, nomeadamente sorrisos, pessoa e almas. Numa ideia mais central, o tempo toca em tudo e a todos, mas há coisas que nunca mudam.

No que toca a “Carminda”, esta é a faixa que se diferencia mais das restantes por ser a única a estar escrita em português. Pegando em elementos do Fado, como os sons clássicos de uma guitarra portuguesa, esta é a melhor música do álbum. O instrumental forma uma dupla perfeita com a letra e, principalmente, com a entoação da voz do artista. Fazendo um paralelismo do passado/presente, a faixa aborda uma personagem que ficou presa nas recordações de infância: “Roupa a secar na corda / Foi posta com os braços no ar / Prendeu o tempo com molas / Deixou a camisa a pingar”.

Treehouses” é outra música que aquece o coração. A voz de sussurro do artista não consegue passar despercebida, e é isso que torna esta faixa tão intima para quem a escuta. A passagem de um registo calmo para um mais arrojado e explosivo é notória neste tema, o que confere à música versatilidade. O uso de backvocals também ajuda para se interpretar a música como uma melodia rica e gloriosa. Embora bastante diferente de “Carminda”, “Treehouses” não fica longe de ser uma das músicas de maior ênfase de Memories and Bad Photographs.

Relativamente às restantes músicas, já não se pode falar de aspetos tão significativos e brilhantes como as das anteriores. “Miss Guilty” funciona como uma espécie de intro, e isso nota-se pela sua duração e pela composição, que se traduz num conjunto de versos cantados acapella pelo artista. Há alguma criatividade aqui, pela maneira tão simplista com que foi produzida a faixa, no entanto, destoa completamente do álbum.

No caso da “I Left My Shoes Outside” e “Ballons and Melodies” o problema de uma é igual ao da outra. Apesar de trazerem algum Rock ao disco, principalmente a primeira, acabam na monotonia. Sem grandes variações a nível de ritmo e com poucas dinâmicas, podemos considerar faixas aborrecidas, onde não se passa nada de especial.

Para finalizar, é de referir que Memories and Bad Photographs é um álbum em que o artista confere muito de si e arrisca em dar um passo direcionado a novas experiências sonoras. Na íntegra, o disco forma um trabalho sólido capaz, até, de se tornar característico para quem o ouve. Para um artista que está a crescer na carreira progressivamente, Captain Boy deixa-nos aqui um projeto coeso e bonito.