A sensibilidade e a delicadeza visitaram a cidade de Braga numa dança feita em tons de branco. Harmonia e pormenor foram características que se sobressaíram.
Nas passadas quinta e sexta-feira, o Theatro Circo deixou o palco reservado para “Segredo Secreto”, uma performance de dança contemporânea que teve como intuito valorizar a inclusão da comunidade surda. Protagonizado tanto por bailarinos profissionais como por participantes com défice auditivo, este é um espetáculo que retrata cenários do quotidiano, focando-se, especialmente, no uso de gestos para comunicar com o público.
Não foi necessário muito tempo para a criatividade da atuação ter sido destacada. Num cenário simples, com baloiços e flores suspensas no ar, o palco surpreendeu o público por revelar que seria não só o local da performance, como também a própria plateia. Com cadeiras distribuídas por todos os cantos do espaço, a distinção entre espectadores e dançarinos foi nula.
Harmonia nos movimentos, expressões faciais trabalhadas e intensidade na representação foram três constantes dos bailarinos durante toda a atuação. Surgidos do meio do público vestidos de branco, estes conferiram ao palco muita dinâmica. Entre saltos, corridas, piruetas, gestos e toques, a intenção dos artistas em passar uma mensagem foi notória, o que transformou o ambiente ainda mas intimista.
A divergência de faixas etárias presentes em palco criou uma energia de tal forma cativante que a plateia, de olhos fixos, dificilmente pestanejava. Outro aspeto que prendeu a atenção dos espectadores manifestou-se na interação que os artistas mantiveram com o público, de princípio a fim. Sussurros ao ouvido, mensagens exprimidas através de mímica, troca de bilhetes escritos e crianças a contar os seus segredos foram momentos que fascinaram e transformaram aqueles que assistiam sentados em participantes da performance. A música, ora sinistra, ora carregada de força, foi um elemento auxiliar para que as emoções representadas pelos dançarinos fosse passada para o outro lado.
Nunca deixando de fazer referência, através da dança e do trabalho em equipa em palco, à dualidade da vida e da morte, do nascer e renascer, da infância e velhice, a performance chegou ao fim com o ecoar de uma frase da obra “O Principezinho”, ao som de uma voz feminina. Ao fim de vários aplausos, audíveis por toda a sala, chegou a vez dos aplausos com as mãos abertas levantadas no ar, a girar de um lado para o outro.