Após 15 álbuns de diversidade bem-sucedida, chegou a vez da banda australiana King Gizzard and The Lizard Wizard mostrar que a sua arte também se faz ao som pesado e estremecido do Trash Metal. Dotado de um calibre potente, Infest The Rats’ Nest é um álbum que ilustra a realidade ambiental dentro de um universo totalmente apocalítico.

Passos dados no escuro e uma tendência aguçada para fazerem álbuns concetuais fortes são dois aspetos que ninguém tira a King Gizzard and The Lizard Wizard. Imprevisíveis como conseguem ser, a afetividade pela escolha entre diferentes géneros musicais e a frequência com que produzem algo novo torna o grupo sensacionalista o suficiente para cair na graça dos diferentes públicos. É devido a esta versatilidade já conhecida (e o transbordar de produtividade criativa) que o lançamento de um álbum puxado mais para o lado metaleiro da banda não soe a algo tão inesperado ou surpreendente.

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Porém, Infest The Rats’ Nest não deixa de possuir uma essência, trazendo consigo elementos que o tornam cativante. É a postura audaciosa do grupo que o transforma num autêntico descalabro sonoro, pronto para lançar bombas líricas a quem o escuta.

O álbum presenteia-nos com nove faixas recheadas de muita agressividade, euforismo e verdade, com o intuito de encaminhar o ouvinte para o enfurecimento. O facto da temática das músicas se basear na questão ambiental faz com que o comportamento humano seja alvo de diversas acusações expostas nas letras. Sátira, sarcasmo e ironia, misturados ao sabor da verdade pura, nua e crua, resultam num cocktail perfeito para ser desgostado ao som de um turbilhão violento propício para enraivecer.

Planet B” é a faixa de abertura do disco e com ela a ideia da conceção de Infest The Rats’ Nest fica evidente. Saturada de uma boa dose de bateria acelerada, distorções acentuadas e solos descontrolados, o lençol vocal cai numa cama sonora agitada. Mantendo nas vozes alguma fúria, a música leva-nos para um planeta B que não existe nem vai existir, ou seja, a possibilidade de escapatória do caos é nula. “Urbanization / Scarification / Population exodus / There is no Planet B / Open you eyes and see”.

Outras músicas de destaque são “Superbug”, “Self-Immolate” e “Hell”. A primeira é a faixa mais pacífica do álbum, onde se nota um certo abandono da preferência da banda por ritmos acelerados. Iniciada pelo som de um solo harmonioso e simples, a música colide em solos cada vez mais arrojados, à mistura de batidas inquietas. O som sujo das distorções, no entanto, permanece. O que traz “glória” à faixa são as variações que se encontram nela. Há partes claras de Metal, mas também há alturas em que as melodias assumem um caracter mais suave, quase que de Rock Psicadélico. Quanto ao conteúdo lírico, “Superbug”, tal como o próprio nome indica, fala, metaforicamente, de algo (uma bactéria) que se entranha no nosso corpo e que eventualmente nos vai conduzir à morte – “Superbug in my blood / Superbug made of the disturbing stuff”.

No que toca às outras duas músicas, uma e outra complementam-se, no sentido em que a primeira dá início a uma atmosfera demoníaca que só termina ao som de “Hell”. “Self-Immolate” tem atrás de si uma composição musical incrível e versátil. Longe de cair na monotonia que muitas das vezes o Metal é capaz de causar, esta é uma música que brilha por diversificar as melodias e ritmos, tendo até  alguns silêncios pelo meio. Os solos estonteantes, as batidas desassossegadas e os back vocals esporádicos alinham-se sofisticadamente entre si.

O caos fica instalado em “Hell”, o que faz todo o sentido dado que esta é a música que encerra o álbum. De início a fim a faixa transforma-se num desassossego constante, provavelmente para representar o que é viver num inferno. Depois de um disco inteiro a desempenharem o papel de narradores da desordem em que se encontra o mundo, nada melhor do que terminar em beleza anunciando o fim do mundo em chamas : “God, it’s pretty hot down here”.

Em análises finais, é importante referir que em Infest The Rats’ Nest se assiste ao lado mais efusivo dos King Gizzard and The Lizard Wizard. Não é que essa faceta já não fosse dada a conhecer por eles, no entanto, é possível ver-se uma banda um pouco mais eufórica do habitual. O facto do grupo se converter num tipo de locutor que vai relatando a proximidade do fim do planeta, faz com que este seja um disco que deva ser levado a sério. Isto é dito no sentido em que as letras que estão nele foram feitas para serem ouvidas e interpretadas.

A nível musical, a escolha do Metal justifica o conceito do disco, se acreditarmos que a produção dele se destina a chamar a atenção da balbúrdia em que o planeta inteiro se encontra. Nessas premissas, todo o ambiente que é gerado pela violência do Trash Metal aplica-se a este caso: faz despertar e acordar para uma realidade que está a ser vivida, mas não melhorada. O único senão de Infest The Rats’ Nest está no cansaço que este causa se for ouvido por inteiro de um trago só.