Estamos a duas semanas das eleições legislativas e apenas no sábado passado é que se tornou pública a lista de todos os candidatos. Deles apenas sabemos o nome. O que me leva a concluir que os portugueses não sabem em quem votam.
Atrevo-me a dizer que, para além de não saber em quem votamos, também não sabemos no que votamos. Em maio deste ano deram-se as eleições europeias, onde cerca de 70% dos portugueses preferiram não ir às urnas e, apesar de as legislativas funcionarem de forma diferente, alguns media decidiram extrapolar os dados para aquilo que poderá acontecer no dia 6 de outubro.
Os órgãos de comunicação social que o fizeram, fizeram-no mal. Não se pode comparar algo que é incomparável. Contudo, temos quase certeza que o PS, o PSD, o CDS, o BE, o PCP e o PAN serão os partidos a eleger mais deputados. E mais uma vez vamos dizer: os portugueses votam sempre nos mesmos e depois queixam-se.
Primeiro, temos de nos certificar se os portugueses realmente votam. Nas últimas eleições para a Assembleia da República mais de 40% dos cidadãos não usufruiu do seu direito e dever de voto. E, apesar da democracia ter as suas fragilidades, é, até agora, o melhor sistema político.
Em segundo lugar, temos de perceber como é que funcionam as eleições. Nestas eleições os portugueses elegem 230 deputados através do sistema de representação proporcional e o método de Hondt. Cada circulo eleitoral pode eleger um número, previamente estabelecido, de deputados que se dividem pelos partidos candidatos naquele circulo.
Braga é o terceiro distrito que elege mais deputados com 19. Antes de Braga, encontram-se Porto (40) e Lisboa (48). Em último encontra-se Portalegre, que só elege dois. É quase impossível um partido pequeno ser eleito. Este método favorece os partidos grandes, fazendo com que os restantes saiam prejudicados. E é por isso que votamos sempre nos mesmos.
Nestas eleições temos 21 forças politicas candidatas, mas não as conhecemos. Não lemos o seu plano eleitoral e não sabemos quem é que se candidata. Mas não nos afeta, definimos o nosso voto pelo que lemos num grupo de Whatsapp ou no Twitter. Ou, então, desprezamos a democracia, resumindo-a a um simples teste do estilo Buzzfeed.
E, apesar dos debates e entrevistas transmitidos por diferentes órgãos de comunicação serem importantes, não são representativos das suas ideias. Às vezes, os debates nem parecem debates, reduzem-se a uma mera exposição de ideias sem oposição.
A duas semanas de irmos às urnas não sabemos em quem vamos votar. Porquê? O problema começa cedo: nas escolas. Não educamos as crianças para pensar. O modelo de ensino beneficia a memorização, deixando de parte o debate e a partilha de ideias.
Num fenómeno de bola de neve, ignoramos automaticamente as micro-politicas. Em dezembro do ano passado, a UMinho elegeu com uma taxa de abstenção de 84% os representantes dos alunos na sua associação académica. O cenário nas eleições do Conselho Geral contou com 98,5% de abstenção.
E certamente todos temos aquele amigo que diz: não gosto nada de política. O problema não é de gostos, o problema resume-se à desinformação que gera desinteresse.