A 19 de setembro chegou a Portugal a viagem órfico-espacial mais aguardada do ano. Escrito por Ethan Gross e James Gray, realizado pelo último e protagonizado por Brad Pitt, Ad Astra é um murro para aqueles que metem todos os “filmes do espaço” no mesmo saco.

Per aspera ad astra” é uma citação latina conhecida que significa “por ásperos caminhos até aos astros” e que, muito superficialmente, resume o filme. Esta longa metragem é narrada em voz-off pelo protagonista e astronauta Roy McBride (Brad Pitt). Roy conta-nos a estória de quando liderou uma missão pelo nosso sistema solar. A missão visava descobrir mais e resolver os efeitos da expedição que o seu pai (também ele astronauta, interpretado por Tommy Lee Jones) realizou há 30 anos e na qual acabou por desaparecer.

Ad Astra

Confesso que sou daquelas pessoas irritantes que se recusam um pouco a ver filmes que se passem no espaço ou que o envolvam de forma ficcional. Costumo metê-los no mesmo saco, porque tendem a tentar fascinar a audiência com os efeitos especiais de forma a mascarar uma estória pouco conseguida. Ad Astra não é assim. Possui um enredo que prende desde o início e que não se deixa abafar por toda a imensidão do que é feito a computador. É, também, bastante acessível no que tem de sentimental.

Nos primeiros minutos do filme estava um pouco receosa, porque deram a entender que iriam abordar muitos temas clichés. Porém, fui-me apercebendo que iam, de facto, fazê-lo, mas de uma forma pouco ou nada convencional. E isto foi, para mim, a melhor parte. Medos, prioridades, dramas familiares, desenvolvimento tecnológico, sede humana de poder… Sem entrar em grandes pormenores, sim, está tudo lá. Mas não como é de esperar.

Creio, até, que Ad Astra pode mesmo vir a ser um ponto de viragem no paradigma dos filmes épico-espaciais. Talvez por não ter ido atrás dos seus antecessores, apesar da influência notória de alguns.

Ad Astra

No que concerne à performance de Brad Pitt admito, contudo, que fiquei um pouco dividida. As suas falas em voz-off resultam muito bem no filme e conferem-lhe um tom intimista. No entanto, creio que algumas emoções não foram bem transmitidas. Realço que Roy McBride é uma personagem um pouco apática e o facto de estarmos habituados a ver o ator a encarnar personagens mais carismáticas não ajuda. Talvez tenha sido isto que neste aspeto me tenha feito sentir que faltava mais um bocadinho de alguma coisa.

Já Tommy Lee Jones fez-me esquecer da pessoa em prol da personagem. Achei uma excelente escolha para o papel, nomeadamente no que toca a alguns traços faciais muito vincados do ator, que assentaram na perfeição a Clifford McBride.

Ainda no que toca às personagens, senti que algumas delas foram demasiado temporárias. Tão temporárias e impessoais que, em alguns momentos, me podiam ter arrancado uma lágrima ou outra, mas não o conseguiram, porque não foram suficientemente desenvolvidas para que conseguisse criar uma ligação (como é o caso da companheira de Roy e de alguns astronautas).

Ad Astra

Quanto aos efeitos especiais, jogos de luzes, ângulos e enquadramentos, penso que não poderiam ter corrido melhor. Lembro-me perfeitamente de um dos ângulos captados, auxiliado por efeitos especiais de louvar, ter chegado a fazer-me sentir um pouco vertiginosa. Noutro momento muito distinto, o jogo de luzes conseguiu deixar-me desconfortável e até um pouco enjoada. Isto não foi necessariamente mau, porque creio que ser um astronauta não seja propriamente um mar de rosas.

A banda sonora, por sua vez, resulta bem, mas acho-a pouco memorável. Creio que sozinha não impactaria, o que, por outro lado, não achei necessariamente mau. Lembro-me de ter acompanhado bem o filme e de ter sido coerente com o que se passava, só que os momentos e a sua densidade psicológica “ouviram-se” mais, o que, para mim, é um ponto a favor.

Em conclusão, recomendo vivamente Ad Astra. Não acho um ótimo filme só para os fãs de ficção científica, mas para qualquer um que goste de sair do cinema (ou do sofá) a pensar.