A série de fantasia criada por René Echevarria e Travis Beacham, Carnival Row, chegou à Amazon a 30 de agosto. Preocupa-se, mesmo que através de uma manta quimérica, com a discriminação social e a emigração forçada. No entanto, aplica uma fórmula constantemente repetida: seres mitológicos a apaixonarem-se por outras criaturas diferentes, com a possibilidade da produção de híbridos e a exclusão de minorias.
As típicas tradições carnavalescas são deixadas de parte na série da Amazon. Melhor dizendo, a característica particular, apropriada por algumas regiões, de vestir tudo e todos com fantasias variadas mantém-se. Marcam-se as fadas, faunos (corpo metade humano e metade bode) e, nunca esquecendo, os humanos. Para além disso, também prevalece a própria confusão social instalada em tais alturas. Contudo, num ponto de vista completamente diferente.
Num primeiro momento, as criaturas vivem em pontos geográficos distintos e mantêm a pacificidade. Seguidamente, humanos e seres mitológicos unem-se para combater as “forças do mal”. Posteriormente, os seres humanos apercebem-se dos poderes das criaturas e, por medo do desconhecido, utilizam violência e políticas sociais para as controlar. “Magia é apenas a vossa palavra para todas as coisas que tu e vocês ainda não descobriram”, chega a afirmar Mima Sawsaan.
A intervenção de força assemelha-se a todas as demonstrações de autoridades previamente vistas. As políticas sociais baseiam-se na abertura de janelas de oportunidade para empregos submissivos – prostitutas, seguranças e criados. Por outro lado, passam também por incutir nos mais pequenos, tal como Salazar outrora fez, os valores de uma sociedade humana e o tratamento devido aos outsiders, através da religião.
O amor improvável entre o humano Rycroft Philostrate (Orlando Bloom) e a fae – abreviação de faerie: fada – Vignette Stonemoss (Cara Delevingne) aparenta ser o mote da trama. Um flashback dos primórdios do romance derrete o coração do público.
Um militar, preconceituosamente visto como um brutamontes, consegue conquistar uma fada que procura reivindicar os seus direitos, proteger o seu povo e as relíquias históricas da sua pátria. Poderíamos dizer que o relacionamento se inicia com o livro Kingdoms of the Moon, que conta a história de um inventor que parte para a lua e, lá, se apaixona por uma princesa.
Entre essa relação surge um conjunto de homicídios extremamente violentos e inexplicáveis aos olhos da lei humana. Nota-se uma enorme preocupação na representação verídica dos corpos e das lacerações provocadas, isto é, um fantástico trabalho de figuração.
Devido à falta de explicações plausíveis, Rycroft Philostrate (Philo), Inspetor da Polícia do Burgue procura ajuda mística. Também porque é um dos únicos elementos que acredita na colaboração entre humanos e criaturas. No entanto, acaba por perceber que a proveniência daquelas mortes é também um ser não humano.
Além dos rostos mundialmente conhecidos de Cara Delevingne e Orlando Bloom, a série conta com Simon McBurney, enquanto Runyon Millworthy, um street performer, juntamente com a sua trupe de kobolds. Tamzin Merchant interpreta Imogen Spurnrose, alto membro da sociedade. Por fim, David Gyasi é Agreus Astrayon, metade humano e metade bode que subiu na hierarquia.
A série conta, também, com uma panóplia de composições musicais apaixonantes. Por exemplo, “Fuel to Fire”, de Agnes Obel, acompanha as circunstâncias que levaram ao afastamento de Vignette e Philo – “Do you want me on your mind or do you want me to go on? / I might be yours, as sure as I can say / Be gone, be far away”.
Oito episódios compactos e de repleta fantasia que não poderia representar melhor problemas sociais atuais. Quer seja para interpretar as inúmeras metáforas que transparecem, quer para se ver algo com as maiores descontrações, Carnival Row é uma das séries pelas quais se deve optar.
Título Original: Carnival Row
Realização: René Echevarria, Travis Beacham, Marc Guggenheim, Jon Amiel, Orlando Bloom
Argumento: Travis Beacham
Elenco: Orlando Bloom, Cara Delevingne, Simon McBurney
USA
2019