Dois anos após a estreia da primeira temporada, Dark, a primeira série original alemã a triunfar na plataforma de streaming Netflix, traz-nos a continuação tão esperada da trama de suspense. A segunda temporada estreou a 21 de junho e não desiludiu o público, revelando-se melhor tecnicamente do que a primeira, já considerada um tesouro alemão.

Situada na cidade fictícia de Winden, Alemanha, a primeira temporada de Dark foca-se no desaparecimento de uma criança que se perde numa gruta. O mistério criado pelo caso põe a nu antigas tensões entre as quatro famílias principais do enredo que se prolongaram ao longo das gerações. É, então, revelado que Mikkel Nielsen (Daan Lennard Liebrenz), ao entrar pela gruta, atravessou uma brecha no tempo, indo parar a 1986.

Dark

É assim que a premissa da série se introduz: brechas no tempo que ligam diferentes épocas separadas por ciclos de 33 anos. Nesta narrativa são postos em questão assuntos como o paradoxo do conceito de tempo, o livre arbítrio e o existencialismo da natureza humana. Os temas fazem-nos exercitar o cérebro, mas de uma forma boa.

Na segunda temporada de Dark continuamos lado a lado com o protagonista, Jonas Kahnwald (Louis Hofmann). O jovem lida agora com as consequências dos eventos da primeira temporada e tenta prevenir um apocalipse do qual foi avisado através de uma versão de si mesmo vinda do futuro. Entretanto, as ligações entre as quatro famílias tornam-se mais tensas e continuam a aumentar de proporções. Isto acompanha o culminar dramático da temporada, que deixa o público em êxtase à espera de mais.

Seria de pensar que, com um enredo tão complexo e ambicioso, a série perdesse na sua execução. No entanto, é de salientar um excelente argumento que executa de forma certeira o que promete – intrigante, atmosférico, profundo. Para além da excelente execução técnica, é necessário também louvar a excelente escolha de elenco. Destaca-se o bom trabalho neste ponto não só devido ao cuidado tido ao selecionar os atores que representavam as mesmas personagens em diferentes ciclos (1953, 1986, 2019), e, consequentemente, faixas etárias, como no próprio casting de profissionais que fossem capazes de representar um guião tão desafiador.

Dark

A cinematografia e banda sonora foram outros dos aspetos claramente cuidados pelos produtores. Através da imagem, foi conseguida a criação de uma atmosfera intrigante, mas simultaneamente sombria na narrativa principal (2019). Já nos restantes ciclos, foram perfeitamente captadas as pequenas características marcantes de cada época – como é o exemplo do uso de cores fortes nas cenas representativas dos anos 80 (ciclo de 1986).

Também a banda sonora conta com êxitos que contribuem para a criação da atmosfera desejada. São exemplos as músicas “My Body Is A Cage”, de Peter Gabriel, “Twisted Olive Branch”, de Asaf Avidan, “Thunder”, de RY X, e o tema original “May the Angels”, de Alev Lenz.

Desta forma, Dark torna-se uma das revelações da Netflix, lançando o mercado alemão no investimento (merecido) na área da produção cinematográfica. Críptica mas viciante, esta revelação alemã é algo com o qual vale a pena gastarmos o nosso tempo.