Quando vemos as escolhas de curso dos novos alunos que entram na universidade, as primeiras opções na lista são sempre ocupadas pelos mesmos. Isto leva a que os estudantes que não alcançam as notas necessárias para poder entrar nesses cursos a ter que se inscrever noutros que, à partida, não consideram tão interessantes, mas que podem ser nas áreas certas para eles.

Quando somos mais pequenos somos constantemente confrontados com a difícil pergunta: “o que é que queres ser quando fores grande?” A resposta costuma variar entre bombeiro, polícia, astronauta, piloto ou jogador de futebol. Quando se entra no ensino secundário, temos de escolher entre um dos cursos Científico-Humanísticos para estudar, mesmo que não saibamos grande coisa sobre cada uma das áreas e ao que elas podem estar ligadas.

Quem escolhe Ciências e Tecnologias quer ser médico ou engenheiro (mesmo que não saiba que engenharias existem), quem escolhe Ciências Socioeconómicas quer ser gestor ou economista (mesmo que não saiba a diferença entre estes), quem escolhe Línguas e Humanidades quer ser advogado, e quem escolhe Artes Visuais quer ser arquitecto. Depois, quando se chega à altura para fazer as candidaturas para entrar no ensino superior, muitos parecem seguir os caminhos mais mainstream.

O leque de opções mais mainstream parece bastante reduzido certo? Na minha opinião, este problema deve-se à desvalorização dos cursos “não tradicionais” por parte dos empregadores. A licenciatura em Administração Pública na Universidade do Minho, por exemplo, tem 40 anos e, mesmo assim, continuamos a ver concursos públicos direcionados para pessoas com a nossa formação, mas a pedir licenciados em gestão ou economia. Mais do que isso, continuamos a ver professores a administrar escolas, e médicos a administrar hospitais, quando não são verdadeiramente qualificados para tal.

Vamos pôr os pontos nos i’s. Passamos três anos a aprender unidades curriculares que vão do direito à contabilidade, das políticas públicas aos recursos humanos. Temos um curso multidisciplinar que faz dos nossos licenciados profissionais de excelência e com uma visão muito abrangente, mas que continua a não ter a notoriedade que merece.

Se é verdade que este problema já foi muito mais uma realidade e que a taxa de desemprego dos licenciados em Administração Pública na Universidade do Minho é de apenas 4%, também é verdade que parte dos empregados não estão a trabalhar na sua área de formação, como gostariam de o fazer. A luta pela valorização do nosso curso não é algo novo, e o Centro de Estudos de Administração Pública (CEAP) quer continuar a ter um papel importante nesta.

Da mesma forma que isto acontece com a licenciatura em Administração Pública, estou certo de que acontecerá em outras licenciaturas que, apesar de todo o valor que podem acrescentar ao mercado de trabalho, continuam a não ser tão valorizadas, afastando assim o interesse dos jovens.