Fundador do CDS, professor de direito e filho de um antigo deputado da União Nacional. O início e o fim de um dos criadores dos principais partidos políticos.

Diogo Freitas do Amaral faleceu, esta quinta-feira, 3 de outubro de 2019, e deixa consigo um caminho marcante na política portuguesa. Um grande defensor da democracia cristã, nasceu em 1941 na Póvoa de Varzim, passando grande parte da sua juventude em Guimarães, tendo, então, raízes na região do Minho.

O mesmo frequentou a Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa, licenciando-se em 1963. Especializou-se em Direito Administrativo e finalizaria o doutoramento em Ciências Jurídico-Políticas em 1967, o próximo passo da sua carreira foi a fundação do CDS, após o 25 de abril.

A sua carreira contou com diversas oposições, opondo-se à Constituição da República Portuguesa de 1976, ainda hoje utilizada como pilar do atual sistema democrático. Mais tarde, juntou-se a Francisco Sá Carneiro (PSD) e Gonçalo Ribeiro Teles (PPM), constituindo desta forma a Aliança Democrática (AD), que teve a maioria absoluta nas eleições legislativas de 1979 – ano em que foi formada.

Após a vitória nas legislativas de 1979, o mesmo ocupou o cargo de vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros. Com a morte de Francisco Sá Carneiro, o mesmo chegou a exercer a função de primeiro-ministro interino até dezembro de 1980. Mas voltaria a ser vice-primeiro-ministro no VIII Governo Constitucional de 1981 até 1983.

O que pode ser considerado dos maiores sucessos de sua carreira política seria a revisão constitucional de 1982, juntamente com a AD. Este foi dos últimos sucessos enquanto operava na direita.

As eleições presidenciais de 1986 não decorreram a seu favor. Embora tenha vencido por grande margem na primeira volta, a mesma vitória não se repetiu na segunda, perdendo para Mário Soares. Após tal derrota, o mesmo viria a dissipar-se da direita, sendo por um ano presidente da Assembleia-Geral da ONU, enquanto permanecia como professor catedrático na faculdade onde estudou. Pouco tempo depois, viria a regressar ao cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de José Sócrates, oficializando a sua separação com a direita portuguesa.

Passando pela direita e pela esquerda, o mesmo ficou isolado. Desta feita, foi perdendo o apoio que outrora teria pela direita, e ficou reconhecido pelo seu passado de democracia cristã pela esquerda.

“Houve uma primeira fase em que, com o país demasiado virado à esquerda, acentuei sobretudo valores de direita. E uma segunda fase em que, julgando eu que o país estava demasiado virado à direita, acentuei sobretudo valores de esquerda”, concluiu Diogo Freitas do Amaral, uma frase que, para muitos, resume o seu percurso político.

Prosseguindo com uma vida mais sossegada da política, viria a continuar a escrever diversas obras. Algumas das mais reconhecidas são uma biografia de D. Afonso Henriques e uma peça teatral da história de Viriato. Mas jamais se desinteressou pela atividade política atual, ainda sendo comentador televisivo.