Mabel, com apenas 23 anos, estreia-se com o seu primeiro álbum de estúdio, High Expectations. A cantora britânica, nascida em Málaga, apresenta-nos um projeto bastante completo e preenchido. No entanto, isso nem sempre significa que seja um bom projeto.

A primeira música é a introdução com o mesmo nome do álbum. High Expectations” revela a personalidade resiliente e determinada da artista e a forma como estabelecia expetativas altas para si própria como forma de se superar.

standard.co.uk

O singleBad Behavior”, lançado a 23 de julho, passa recorrentemente na rádio. Carrega uma crítica às pessoas que pensam que sair à noite e divertir-se é mau comportamento. Mabel responde a isso dizendo que não faz isto para impressionar, simplesmente o faz por ela própria e porque se sente bem. Faz-nos sentir mais confiantes, pois também apresenta um ritmo divertido.

O single mais famoso da cantora britânica foi conhecido no dia 18 de janeiro. Com “Don’t Call Me Up”, o objetivo era ganhar empatia com quem já viveu e ultrapassou uma separação, e uma difícil de superar. Aqui, vemos um pouco da sua experiência pessoal e a sua excelente capacidade vocal.

We Don’t Say” é uma música interessante do ponto de vista da produção. Os apontamentos de Eletropop e o recurso evidente ao autotune conferem uma dimensão diferente à música. O conteúdo lírico, por sua vez, revelou-se um pouco fraco – repete o tema de uma relação que atravessa dificuldades. No entanto, torna-se compreensível quando vemos que Mabel passou por uma separação recentemente.

A sexta faixa deste primeiro projeto é uma colaboração com a cantora e produtora britânica Kamille, que também já colaborou com as Little Mix. “Selfish Love” é uma boa combinação do ritmo da música com a cadência da letra, fazendo com que certas partes pareçam lengalengas. A contribuição de Kamille rompe com a cadência das músicas, o que torna a faixa num dos temas mais interessantes e fortes do conjunto.

Segundo a artista, os interlúdios ajudam a separar o álbum, tal como a anterior o faz. “Lucky” é um pouco um freestyle, onde Mabel confessa como realmente se sente em relação ao seu trabalho e à sua vida pessoal. “Eu tenho pequenos problemas com certos aspetos do meu trabalho, as redes socias e tudo o que estes trazem, mas mesmo quando estou mal com isso, ainda me sinto muito sortuda e grata.

Um outro single é “Mad Love”, conhecido a 7 de junho. É uma música mais divertida e agradável, mas que apresenta um cariz comercial. É a típica faixa que ouvimos na rádio, no entanto não deixa de ter qualidade e mostrar a capacidade vocal da cantora. Relembro, também, que este é o primeiro álbum de estúdio da cantora e as experiências pessoais de Mabel são o tema principal.

A artiras pergunta-se “esta relação é dramática porque nos amamos e há muita paixão? Ou é literalmente só drama que não faz falta na minha vida?“. Esta era uma pergunta difícil de responder e duas realidades complicadas para traçar, e por isso, Mabel quis escrever uma música que a ajudasse a perceber. Para além disso, abandona aquela persona confiante e destemida e mostra alguma vulnerabilidade.

Mabel passou grande parte da sua vida em Estocolmo. E, apesar de ter passado bons momentos na Suécia, também se sentia muitas vezes presa e incapaz de se expressar, muito por causa da pacatez da cidade. Assim, como o título “Stckhlm Syndrome” indica, a síndrome de Estocolmo consiste em retrair sentimentos pelo próprio agressor, que muitas vezes mantém a sua “vítima” cativa. A cantora fez essa analogia, mas em vez de ser numa relação, comparou com a cidade. Uma associação inteligente e que foi bem conseguida, apresentando-nos mais um interlúdio.

Ansiedade é um problema com que a artista sempre lidou durante a sua vida. E como a vontade de se aproximar dos fãs é grande, escreveu “OK (Anxiety Anthem)” como forma de os ajudar a ultrapassar e a compreender que tudo fica bem. Apresenta um ritmo harmonioso que tem um efeito, de facto, bastante relaxante e agradável.

Uma das melhores músicas presentes neste projeto é “I Belong To Me”. Fala sobre o amor próprio, e como é importante numa relação. Mabel canta “I belong to me before I ever belong to you” como forma de expressar a sua independência e a importância que tem para a sua vida.

Um apontamento interessante é que em certas partes se ouve “I’ma need space”, frase que pertence a “NASA”, de Ariana Grande. “I Belong To Me” assemelha-se a “NASA”, na medida em que ambas mostram esta necessidade de independência e de amor próprio, logo, a frase serviu que nem uma luva nesta excelente faixa.

O principal objetivo de “High Expectations (Outro)” é trazer de volta o início do álbum. Mabel diz que gostou da ideia, pois é muito simples e é já uma técnica clássica. O conteúdo lírico não varia quase nada em relação ao primeiro, o que numa análise mais abstrata pode significar que, mesmo que alguém a magoe e que passe por uma fase má, no fim, Mabel permanece a mesma rapariga determinada e independente.

Um álbum tão preenchido tem a dificuldade acrescida de tornar todas as canções de qualidade. Em High Expectations houve, também, faixas que não se destacaram. É o caso de “FML” e “Put Your Name On It”. Ambas repetem um pouco o que Mabel abordava, pois ambas falam sobre a autoconfiança, mas em relação a um desgosto amoroso.

A obra contém, ainda, um segundo disco com outro tipo de músicas. Aqui ouvimos, por exemplo,  “Finders Keepers”, o hit de 2017 que Mabel quis trazer de volta. Mas também algumas colaborações com outros artistas, como Jax Jones, com quem a cantora britânica participou.

No fim, Mabel conseguiu um trabalho bastante profissional para o seu primeiro álbum de estúdio. No entanto, com 20 faixas combinadas nos dois discos, existem sempre algumas não tão brilhantes. Num quadro mais geral, High Expectations é bastante inclinado para o lado comercial e para a rádio. No entanto, como referido anteriormente, não podemos desvalorizar a cantora britânica, que compôs várias músicas e que tem uma capacidade vocal digna de reconhecimento.