Ousadas e Golpistas: uma surpresa na categoria do crime

Um dos mais recentes e aguardados filmes de 2019 chega finalmente ao cinema. Ousadas e Golpistas dá a conhecer aos espectadores a realidade dos clubes noturnos e, com bastante droga e álcool à mistura, prende a nossa atenção desde o primeiro momento.

O filme é baseado num artigo da revista New York. Dá a conhecer ao público a história real de um grupo de strippers da era de 2007-2008 que se revoltam contra o sistema e se unem numa luta pelo poder.

Ousadas e Golpistas conta com a presença de caras conhecidas, como Jennifer Lopez, que interpreta Ramona, uma das strippers do clube Moves. Logo no primeiro momento no ecrã, a personagem afirma a sua posição e mostra ser uma verdadeira estrela. A dança no varão com que se apresenta foi um dos momentos mais fascinantes do filme para aqueles que, assim como eu, admiram a complexidade dessa dança.

Contudo, a real protagonista do filme é Dorothy (Constance Wu), responsável por narrar os acontecimentos. A personagem é introduzida no momento em que se estreia no clube Moves, onde acaba por ser acolhida por Ramona, que a ensina e a ajuda a ter sucesso. As duas tornam-se parceiras e Dorothy começa a ganhar bastante dinheiro, que gasta em luxos, mas também a ajudar a avó, com quem vive. Um dos momentos mais cómicos do filme dá-se quando Dorothy paga uma mala caríssima com notas de um dólar.

Mas como tudo o que é bom dura pouco tempo, a crise da bolsa de valores de Wall Street afasta os homens de negócios, que eram os seus principais clientes. Dorothy e Ramona acabam, então, por se afastar e, no dia em que se reencontram, Ramona explica o seu plano para ganhar milhares de dólares.

A ideia seria encontrar homens ricos em bares, drogá-los e levá-los até ao clube de strip, para depois roubar algum crédito dos seus cartões. A mulher acreditava que esta era apenas uma forma de acelerar o processo, pois de qualquer forma esses homens acabariam por lhes dar dinheiro. A narrativa foca-se sobretudo neste plano e mostra como o processo se efetua, acabando por ser até mais complexo do que se poderia pensar.

Ousadas e Golpistas surpreende em muitos aspetos, como na sua capacidade de criar personagens completas e trazer a público certos valores e moralidades. Não se limita a contar a história de forma nua e crua, mas sim de uma forma que nos faz questionar se as ações de alguém que rouba podem ser justificadas. Isto acontece também porque a narrativa perde muito tempo a mostrar aos espectadores as dificuldades por que essas mulheres passam e o pior lado dos grandes homens de negócios, que todos os dias roubam os cidadãos.

As personagens são muito bem construídas, com personalidades complexas e as emoções à flor da pele. O desempenho de Jennifer Lopez é de louvar e fica na memória, quer por ser um rosto familiar, quer pela sua interpretação incrível de uma personagem muito complexa. Mas, para mim, Dorothy é a melhor personagem de todas, uma vez que partilha opiniões mais parecidas com as minhas e consegue perceber quando as coisas são levadas longe demais.

O universo do filme é hipnotizante. É essa a melhor palavra que encontro para o descrever. Ficamos a ver de perto o mundo dos clubes de strip e os diferentes lados, entre quem lá trabalha e quem os frequenta. Senti, também, uma aposta de mostrar ao máximo que as trabalhadoras desses bares, no fim da noite, levam vidas tão normais como qualquer um de nós. Porque, de facto, é isto que acontece e deve ser mais vezes mostrado. Por outro lado, vemos o luxo e extravagância que nem todos possuem.

O trabalho oscila assim entre estes dois universos. Com tons de rosa e roxo, luzes fortes e música alta, sentimo-nos naquele ambiente por uns momentos. Já na cena seguinte, podemos ver um tradicional e familiar jantar de Natal. Há uma certa beleza nestas trocas, que nos deixam ver um lado mais humano das personagens.

A única coisa que realmente não gostei foi a forma como a história foi narrada. Durante todo o tempo, os episódios estavam a ser contados por Dorothy a uma jornalista, que teve um papel quase irrelevante. A mesma história poderia ser narrada sem isto, o que ajudaria a simplificar as coisas e não deixaria os espectadores confusos com as mudanças de ano.

Mas, apesar dos aspetos a melhorar, Ousadas e Golpistas merece o vosso tempo. Consigo garantir que não se vão arrepender de ver o filme, e não serão os mesmos no final. Ainda terão o prazer de ver no grande ecrã celebridades como Cardi B, Usher, Keke Palmer, Lizzo e Lili Reinhart. Por tudo isto, razões não faltam para darem um pulo ao cinema.