Hollywood’s Bleeding é o terceiro álbum do artista norte-americano Post Malone. Conta com 17 temas e várias colaborações que incluem Ozzy Osbourne, Travis Scott, SZA, entre outros.

A música que dá o título ao projeto é a primeira da lista. Quase como um canto gregoriano, a voz de Malone ecoa acompanhado apenas de uma guitarra e vai progredindo para um refrão muito simples, mas que resulta muito bem. É só quando se inicia a segunda estrofe que entra uma batida mais complexa e a progressão melódica muda totalmente de figura. O último refrão, por sua vez, é anunciado por um abrandamento no tempo e, por conseguinte, uma progressiva diminuição dos instrumentos que ouvimos, ficando só o vibrato característico do cantor no final.

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Saint-Tropez” é simultaneamente melodiosa e repetitiva. A progressão harmónica está muito bem feita, não há como negar, mas acabam por ser dois minutos e meio que passam sem darmos bem conta do que se passou. É bonita? Sim. É memorável? Nem por isso.

A próxima faixa conta com a colaboração de DaBaby. Uma música bem mais dotada da estrutura típica do Rap. Pode ser o meu preconceito contra rappers a falar (custa-me o cariz quase falado do estilo, em comparação com vozes que exploram mais melodias), mas não foi “Enemies” que me fez mudar de ideias. Mas, com 17 temas no projeto, era muito improvável que todos eles fossem obras primas.

Allergic” é uma das melhores músicas do álbum. O início denuncia logo que algo bom está por vir. A batida é animada, a canção é coerente e o range de Malone é bem mais explorado. Aquele vibrato quase supersónico combina bem com a melodia, muito bem pensada, com uns acordes bem manhosos pelo meio. Era tirar um minuto de “Enemies” e acrescentá-lo ao tema.

Confesso que não estava à espera de duas músicas animadas seguidas uma da outra, mas Malone conseguiu essa proeza com “A Thousand Bad Times”. Não é que a música é engraçada e até nos faz abanar a cabeça? Onde está o Post deprimente que todos conhecemos?

Não há duas sem três e “Circles” fecha esta tríade da melhor forma. Mais uma canção melodiosa, com uma linha de baixo muito peculiar, com um registo muito Pop, talvez por isso as rádios já a tenham passado incessantemente. Esperemos que não a passem tanto que nos cansemos dela, seria uma pena. “Die For Me”, por sua vez, corta a sequência, com uma colaboração com Hasley e Future. É uma música que não faz falta no álbum, apesar da linha de baixo ser interessante.

On The Road”, “I’m Gonna Be” e “Staring At The Sun” são faixas que não se destacam e, portanto, caem no esquecimento, o pior pesadelo de um artista. “Sunflower” tem um refrão que nos fica na cabeça, mas o destaque da música é, sem dúvida, a voz de Post e o instrumental, visto que Swae Lee não acrescenta nada aos dois minutos e 37. “Internet” apenas se destaca pelas cordas no final da música.

Com “Take What You Want”, o disco volta a ganhar vida. Na minha opinião, é a melhor faixa do álbum, precisamente porque foge ao estilo a que estamos habituados. A junção improvável de Post Malone, Ozzy Osbourne e Travis Scott cria uma miscelânea de sons arrebatadores. A voz de Osbourne e o solo de guitarra acentuam o cariz Rock do tema, enquanto o timbre de Scott nos atira para o Rap. Malone parece ser o mediador desta disputa, trazendo coerência e intensidade a estes quase quatro minutos.

Goodbyes” inicia-se com umas harmonias que quase aparentam não combinar com o resto dos instrumentos, e a participação de Young Thug traz de volta o Rap ao projeto. Com “Myself”, entramos na reta final do álbum, e a antepenúltima canção é mais melodiosa, mais virada para o Pop.

I Know” torna-se mais uma que cai no esquecimento. “Wow” tem uma aura mais macabra, sombria, quase sádica e meio sarcástica. É uma escolha interessante para fechar o álbum, mas não errada.

Hollywood’s Bleeding é um álbum extremamente bem produzido. As harmonias do projeto, por si só, surpreendem-nos a cada música. Inovadoras, bem construídas e nada do que é costume ouvir-se.

A progressão dos instrumentos, as linhas de baixo, os efeitos, sintetizadores e teclados, quando prestamos atenção, são, de facto, muito bem feitas e pensadas com uma precisão milimétrica. Se, por um lado, 17 músicas podem prejudicar qualquer projeto (raramente se vai produzir um álbum enorme onde todas as músicas são extraordinárias e algumas servem para “encher chouriço”), por outro, há temas de se lhe tirar o chapéu. Post Malone fez um cocktail de géneros, mas sempre mantendo-se fiel a si mesmo.