Num momento em que o Trap domina a cena musical, o rapper carioca Sain manteve-se fiel às suas raízes. No seu segundo álbum de estúdio Slow Flow, lançado a 16 de Agosto de 2019, o artista traz-nos beats fora do comum, rimas aguçadas e a mais pura essência carioca.

O membro da Pirâmide Perdida optou por não trazer participações e todas as faixas foram escritas por ele. A importância da família e dos amigos e o quotidiano da sua cidade são os principais temas do disco. Os instrumentais são assinados por El Lif e pelo próprio Sain, e inspiraram-se numa sonoridade underground dos anos 90, rodeados de referências a Jazz e Soul.

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Intro”, a primeira faixa, é como um resumo do disco, onde o jovem rapper fala das suas aspirações, tanto a nível profissional como pessoal. Pela primeira vez, ouvimos os scratches loucos do lendário DJ Nuts, peças fundamentais ao longo do projeto.

Hoodfellas” é uma homenagem aos seus amigos e ao que viveu com eles. Sain exalta a área onde cresceu como lugar de aprendizagem, tal como canta num dos trechos “Catete, glória, Lapa / Várias vivência na minha memória, chapa / Vários irmãozinho, várias história, fala / Foram alguns baque, várias vitória”. Já que a faixa é a que mais se parece com os clássicos dos anos 90, o refrão passa apenas pelos scratches do DJ Nuts, com colagens de CHS, Luccas Carlos e Akira Presidente.

Em “Rosa e Rimas”, o músico rima bem mais solto e calmo, mostrando o seu lado romântico. A composição é dedicada à sua parceira de vida e fala de momentos mais íntimos da sua relação. O instrumental ajuda a criar um ambiente amoroso em torno da música que, aliado à letra, a torna na trilha sonora perfeita para um casal apaixonado.

Lobbies de Hotéis” é a música que mais se distancia do Rap cru, mas também a preferida do cantor. A composição soa leve e é uma espécie de agradecimento a tudo o que conquistou, “Por lobbies de hotéis e restaurantes estrelados / To com lançamento nos pés, backstage lotado”. O instrumental é simples, onde o que se destaca é o sample e um coro excêntrico que deu um clima singular à faixa.

No meio do Rap, um pouco de arrogância não pode faltar. E é assim que o artista termina o disco, com “Faixa 7”. Trata-se de uma letra que procura elevar a sua própria autoestima, “Meus manos usam panos importados / O Phill me manda os beat, nois segue com o trabalho / Põe no repeat, eu to com o flow engatilhado”.

Mantendo as suas raízes dentro do underground, Sain soltou um álbum direto, reto e refinadamente diferente. A produção musical de El Lif traz esse cuidado com o disco, onde cada beat e cada sample foram muito bem pensados e encaixados para as rimas.

É como se o propósito fosse modernizar os anos 90. Tal só seria possível se fosse protagonizado por alguém com uma enorme bagagem cultural e musical – coisa que não falta ao filho de Marcelo D2, um dos maiores rappers e músicos brasileiros. O que me leva a concluir que Sain é também, atualmente, um dos músicos mais evoluídos dentro do Rap.