As ondas sonoras da eletrónica fizeram da cidade de Braga o epicentro de mais uma noite onde a vibração e o poder hipnotizante da música foram ingredientes essenciais para a receita da arte digital.
No passado sábado à noite, dia 26, o palco do Theatro Circo foi um dos locais por onde passou o segundo dia do Festival Semibreve. Assinalando este ano a nona edição, este é um evento que visa enaltecer a música eletrónica e a arte do digital, tanto no panorama nacional como internacional.
O primeiro concerto da noite foi protagonizado pela dupla Oren Ambarchi & Robert Aiki Aubrey Lowe, que ali marcaram a sua estreia mundial. Sentados frente a frente, com duas mesas a servir de linha de separação entre ambos, a performance iniciou-se num ambiente de total escuridão, de focos e olhos voltados para os artistas. Apesar da ausência de projeções visuais, o ambientalismo dominante do duo deu asas para que cada um dos presentes nas cadeiras conseguisse sentir uma mansidão tranquilizadora, suscetível à criação de cenários imaginários.
O uso improvisado de sintetizadores moldurares e de microfones de contacto culminaram em melodias subtis, quase comparável a um diálogo travado entre a calma e paz. O público, recetível a toda a sonoridade ecoada pela sala, manteve-se imóvel perante o cenário que remetia para um estado propício para o relaxar do corpo e o levitar da alma. A dualidade dos artistas durante a atuação não passou despercebida, tal como o ar de contentamento no final, ilustrado por um abraço.
A noite no teatro não se ficou por aqui. A segunda parte do espetáculo ficou encarregue a Drew McDowall, juntamente com a parceira Florence To. Marcada por visuais dinâmicos projetados na tela gigante, a performance resultou numa viagem com destino à hipnotização. Expondo a arte com base na música Drone, McDowall conferiu à sala uma sonoridade minimalista, onde repetições harmoniosas e robustas assumiram o comando, quer do espetáculo, quer dos ouvidos daqueles que a captavam.
A dar cor a esta experiência musical, Florence To orquestrou todo o trabalho visual que deu corpo à performance. Vestida por linhas brancas, alternâncias de cores e sentidos e cristais cintilantes, a atuação não só captou a atenção da plateia, como também a sugou para um universo paralelo em que o tempo se dissolve e os ponteiros do relógio paralisam.
O festival foca-se em proporcionar espetáculos de artistas relevantes da atualidade no domínio desta vertente musical. Para além de concertos ao vivo, o Semibreve também permite ao público uma proximidade mais direta com os artistas através de workshops e conversas sobre a matéria audiovisual e tecnológica. Ainda a decorrer em Braga, a edição deste ano instala-se em vários pontos da cidade, nomeadamente o Theatro Circo e o Gnration.
O Semibreve despede-se hoje com atuações finais de Felicia Atkinson, no Salão Medieval da Reitoria da Universidade do Minho, e Scanner & Miguel C. Tavares e Suzanne Ciani, no Theatro Circo.