Alberto Martins, um dos principais rostos da Crise Académica de 1969, relembrou episódios vividos numa das etapas para a construção de uma sociedade justa e livre em Portugal.

A apresentação do livro Peço a Palavra de Alberto Martins realizou-se, esta quarta-feira, no Largo do Paço, em Braga. A cerimónia pertenceu ao programa destinado a assinalar os 50 anos da Crise Académica de Coimbra, onde constam mais três obras e uma exposição fotográfica.

“Ao fim de 50 anos porque é que eu vou escrever um livro sobre a Crise Académica de Coimbra?”, interrogou o autor vimaranense. A força das circunstâncias, nomeadamente de ser o Presidente da Associação de Estudantes de Coimbra de então, em conjunto com “documentos inéditos” adquiridos nos arquivos da Torre do Tombo, do Ministério da Educação e da Defesa Nacional são as principais razões que o levaram a redigir a obra.

Em homenagem à história, este livro é uma compilação de “memorialismo, depoimento pessoal e uma dimensão documental”. A data de 17 de abril de 1969 é uma das mais marcantes da luta estudantil. Alberto Martins, após o discurso do Presidente da República, Américo Tomaz, pediu a palavra: “em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra, peço a vossa excelência para usar a palavra”.

Num momento de tensão absoluta, a palavra não lhe foi concedida. Foi preso, interrogado e libertaram-no na manhã seguinte, a tempo de participar numa assembleia magna em que os estudantes começaram a preparar o contra-ataque ao regime. Seguiram-se meses de greve às aulas e aos exames.

O autor falou ainda de outros acontecimentos, tal como, a suspensão, por parte do Governo, de oito alunos da universidade sem qualquer averiguação e da presença feminina na academia coimbrense. “1969 em Coimbra foi um afluente do rio da história que passou no 25 de abril”, afirmou o escritor. Perante um país “analfabeto, pobre e desigual” em plena guerra colonial, a crise de Coimbra funcionou como um “movimento de conscientização cívica brutal”. 

A cerimónia contou com o comentário de Wladimir Brito, professor da Universidade do Minho. Numa viagem pelo livro, o docente sublinha a escrita da obra, nomeadamente a relação entre os momentos de luta académica narrados com textos e depoimentos encontrados. “Soube articular estas duas dimensões”, admite. Num ambiente académico retrógrado e “fechado às mudanças do mundo”, o movimento coimbrense foi o “reflexo da luta política pensado pelas universidades”.