Romeu e Julieta, de 1595, destaca-se comummente como a mais bonita história de amor. É também, provavelmente, o ex-libris de William Shakespeare. Contudo, não só a bela estória e o seu desfecho trágico se sublinham nesta obra. Personagens complexas, diálogos bem conseguidos e críticas ainda atuais a hábitos socias são um passe de entrada em qualquer lista de livros a ler.
Esta obra trágica tem lugar “na bela Verona”, como nos diz o Prólogo. Os Capuleto e os Montecchio são famílias de igual nobreza que se encontram em guerra por razões desconhecidas. E, das entranhas destes inimigos, nascem dois amantes condenados a um destino fatal pela situação em que se encontram. Creio que qualquer pessoa minimamente conhecedora da literatura é familiar com este contexto. No entanto, a obra de William Shakespeare não se deveria cingir apenas a este amor que pauta os ideais dos mais românticos até aos dias de hoje.
Tenho de começar por dizer que não costumo aventurar-me por textos dramáticos. Aliás, confesso que a maior parte dos meus encontros com eles foram por obrigatoriedade académica. Sublinho, portanto, que estranhei algumas das características do texto dramático, como, por exemplo, a ausência da descrição dos espaços ou das personagens, de forma direta. No entanto, a estória flui mais rapidamente.
A obra que, na verdade, não é de origem total de Shakespeare (visto que ele foi buscar a maioria das linhas que definem a estória ao poema de Arthur Broke, “The Tragical History of Romeus and Juliet”) tem um enredo e um final bastante previsíveis (talvez pela sua notoriedade). No entanto, não perde interesse com isso.
A linguagem rica e enriquecedora do autor é capaz de tornar a narrativa simples numa obra genial. Entre as falas aparentemente insignificantes escondem-se mensagens importantes e críticas à sociedade. Esqueci-me várias vezes, ao longo da leitura, que Romeu e Julieta é tão antigo, devido ao seu conteúdo por vezes tão atual e recheado de uma dose agradável de ironia.
O trabalho, da autoria do maior escritor do idioma inglês e mais influente dramaturgo do mundo, é bastante rico quanto às personagens. Os protagonistas têm personalidades bastante diferentes, mas complexas. Romeu começa por ser um romântico petrarquista. Porém, acaba por moldar e aliviar a intensidade do seu discurso, graças à mais moderada Julieta. A última é, sem dúvida, uma personagem fascinante e, arrisco-me a dizer, com um papel maior do que o amado. Com apenas 13 anos, a jovem oscila muito entre a juventude romântica e uma personalidade mais moldada pelo que se espera dela já como adulta.
Ressalve-se que os amantes não são as únicas personagens a louvar. Della-Scala, o príncipe de Verona, é uma importante personagem-tipo, que representa a lei, ordem e justiça. Por sua vez, o papel de Benvolio apresenta-se relevante e bem conseguido na suavização dos momentos melancólicos de Romeu. Já Frei Lourenço é a cara da paz e das boas intenções. O facto de não existirem caracterizações diretas e de, mesmo, ser possível retirar tudo isto das personagens é, claramente, sinal de que algo está muito bem feito.
Apesar do caso dos protagonistas ser algo extremo ou radical, a peça faz-nos descolar, por vezes, os pés do chão e leva-nos a sonhar com um amor semelhante (sem o final fatal, impensável e tóxico em pleno século XXI). Juntando isto à exímia escrita shakespeariana, facilmente explicamos o facto de Romeu e Julieta ser uma referência universal. Clarifica-se ainda o porquê deste amor cego e indestrutível se ter tornado um ícone e de William Shakespeare ser um dos melhores autores de todos os tempos.
Título Original: Romeo and Juliet
Autor: William Shakespeare
Género: Tragédia
Data de Lançamento: 1595