O Papa Francisco assinalou a canonização do arcebispo português do século XVI, que o apresentou como “grande evangelizador e pastor”.
Neste domingo, dia 10 de novembro, a Sé de Braga encheu para a canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires. Ao mesmo tempo, no Vaticano, o Papa Francisco proferiu um discurso de modo a enaltecer o santo. A cerimónia foi presidida pelo Cardeal Angelo Becciu e contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
“Hoje, em Braga, Portugal, celebra-se a Missa de ação de graças pela canonização equipolente de São Bartolomeu Fernandes dos Mártires”, proferiu o Papa aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, para a recitação da oração do ângelus. “O novo santo foi um grande evangelizador e pastor do seu povo”, acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa considera que Frei Bartolomeu dos Mártires foi um visionário. “Ele viu, a uma distância de 500 anos, muito daquilo que é a mensagem da Igreja de hoje e também de todos os responsáveis políticos de hoje. Prioridade aos pobres, aos sacrificados, aos sofredores e à proximidade daqueles que vivem em piores condições, e, ao mesmo tempo, a responsabilidade daqueles que mais têm a dar”, afirmou.
Também o Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, considera que há uma mensagem atual. “É um homem e um testemunho para hoje. Num tempo em que as pessoas vão pura e simplesmente procurando a autossatisfação e toda uma certa posição na sociedade, ele dá um testemunho de muita humildade, pessoalmente, e depois de atenção aos outros”, explicou.
Numa entrevista à Rádio Renascença, o bispo de Viana de Castelo, D. Anacleto Oliveira, recorda Frei Bartolomeu dos Mártires. “Era um pastor que, no dizer do Papa Francisco, cheirava às suas ovelhas, passava grande parte do ano no meio do seu povo e tinha também um amor arreigado, profundo para com os pobres, que perdurou até ao final da vida.”
Bartolomeu dos Mártires era proveniente de Lisboa e cedo mostrou sinais de uma devoção extraordinária. Precisamente, o seu apelido “dos mártires” vem do facto de este ter escolhido a Basílica dos Mártires como local predileto para expressar essa religiosidade.
“Aos 14 anos bateu à porta dos dominicanos, para espanto primeiro do porteiro e depois do superior, porque queria ser dominicano. Foi aceite, seguiu os estudos normais. Muito cedo formou-se em Teologia, deu aulas durante 14 anos no novo convento da Batalha”, recorda o bispo de Viana do Castelo. “Caracterizou-se pela formação do clero, construindo um dos primeiros seminários, que ainda hoje se chama Seminário Conciliar de Braga, depois procurando candidatos que ele próprio recrutava nas visitas pastorais”, acrescentou.
O Frei foi também um pioneiro, 400 anos à frente do seu tempo, no que diz respeito a outras reformas. “Segundo parece, teve uma outra intuição, que foi propor o uso do vernáculo para a liturgia. Tinha um fraquinho, como todos os santos, pelas celebrações, e para ele era muito importante que os fiéis pudessem participar compreendendo aquilo que se estava a passar. Nesse aspeto é um homem pioneiro, sem dúvida, 400 anos antes do Concílio Vaticano II.”
Essa luta perdeu-a, mas mesmo para as outras reformas o caminho não foi fácil, e enfrentou bastante oposição, sobretudo por parte do cabido da Sé de Braga, sendo essa uma das razões pelas quais se mudou para Viana do Castelo quando resignou ao ministério episcopal. “Viana do Castelo, na altura, era uma vila que tinha já uma grande pujança, de tal maneira que Bartolomeu dos Mártires percebeu que devia investir lá e mandou construir uma Igreja e um convento, e viveu cá os últimos oito anos da sua vida. Aqui faleceu, aqui está e aqui é honrado há muitos anos.”, conta D. Anacleto.
O processo de canonização, como o de beatificação que o antecedeu, foi chefiado pela arquidiocese de Braga, mas sempre em estreita colaboração com Viana do Castelo. D. Anacleto sublinha, por fim, a excelente relação entre as duas dioceses e acredita que este património comum só a virá fortalecer.
Frei Bartolomeu dos Mártires faleceu em 1590, no Convento de S. Domingos, em Viana do castelo, onde se encontra sepultado.