Eis o regresso de Harold aos projetos a solo. Depois de Indiana Jones em 2016, o rapper surge com este novo projeto intitulado Tudo Tem Seu Tempo. O álbum conta com 12 faixas e várias colaborações, tanto com outros rappers como com produtores.

O membro dos GROGNation traz um projeto bastante sólido com linhas bastante características daquilo que é o Hip-Hop de Harold. Predominam as batidas boombap e alguns afrobeats que servem de base a letras que relatam histórias e pensamentos dos artista. A vertente pessoal está bastante presente no álbum, principalmente na faixa que fala da relação do artista com a mãe.

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A Intro do álbum foi bem aproveitada pelo artista. Mesmo com poucas barras, Harold faz um resumo daquele que foi o seu trajeto até chegar onde está. A música transmite uma mensagem motivacional e o refrão ajuda a tornar esta introdução viciante. No fim, ouvimos um discurso que nos introduz na temática do projeto, o tempo e a forma como lidamos com o mesmo.

O ponto forte da faixa “Segue Em Frente” é o refrão. É simples mas resulta muito bem. O afrobeat transmite uma energia muito boa e, mesmo dentro do género de Rap, dá vontade de dançar. A letra segue a ideologia do álbum ao falar do tempo e Harold passa a quem o ouve uma motivação ao dizer “segue em frente”.

Harold colocou toda a emoção na faixa “Eterna”. Novamente um afrobeat serve de base para o artista escrever uma carta para a sua mãe. Harold fala dos tempos de maior dificuldade, pede desculpa por todas as suas más ações e promete fazer tudo para que possa ajudar a mãe até ao fim. O lado afetivo só por si já dá o valor da música, mas versos como “desculpa se a vida não é o que mereces” ou “queria que fosses eterna como as músicas são” elevam a qualidade da música para um patamar superior.

É necessário dar um destaque à faixa “Causa-Efeito”. Harold fala com um amigo à espera de ter alguém com quem desabafar e termina a contar todo um acontecimento recente. A forma detalhada, sensual e subtil como o artista relata os acontecimentos é simplesmente genial. É tão nítido que leva aqueles que ouvem a música a imaginar um filme nas suas mentes. Realmente bom. Mas, como nada é perfeito, no fim da história ouvimos mais um pouco da conversa entre os amigos e então entra Azagaia em ação. Embora tenha um flow muito diferente, mesmo sendo bom, fica um pouco atrás depois de se ter ouvido a parte de Harold. Apesar de tudo, é um grande trabalho.

E se há música que todos nós devemos ouvir essa está também neste álbum e tem o nome de “Limites”. Principalmente para o público jovem, esta faixa pode funcionar como um hino. Harold critica o sistema como funciona a sociedade, desde o ensino até ao mercado de trabalho. A forma como a liberdade é uma ilusão e de como estamos presos durante anos à mesma rotina. Segundo o artista, o sistema em que estamos inseridos mata os sonhos de cada pessoa, que acaba por se conformar com isso. O beat boombap é a base perfeita para esta música. É conteúdo com grande valor.

A faixa “Relógio de Sol” é bastante diferente das restantes. É claramente uma “música de verão”. Digo isto porque não só a letra fala de uma jovem que passa a vida na praia, como a própria vibe da música leva os ouvintes a imaginar uma cena de verão. Leve, doce e com bom ritmo, Relógio de Sol é uma bela música.

O álbum fecha com o tema “Capoeira”. Toy Toy T-Rex e Papillon acompanham Harold nesta faixa, todos com uma contribuição bastante positiva. São várias as punchlines existentes que acabam por tornar esta uma música mais “agressiva” mas muito boa.

Concluindo, Tudo Tem Seu Tempo é um belo projeto. Harold mostrou alguma versatilidade e capacidade de trabalhar a solo com qualidade, para além do projeto dos GROGnation. Há pontos que podem sempre ser melhorados, mas é um álbum bastante sólido, assim como o talento deste artista. Acima de tudo, o que fica é a mensagem que Harold tentou passar. Afinal de contas, Tudo Tem Seu Tempo.