Sophia de Mello Breyner Andersen é uma escritora que, em algum momento, já esteve presente na vida de todos os portugueses, e faria esta quarta-feira, dia 6 de novembro, 100 anos. A sua obra complexa na simplicidade fascina, ainda hoje, crianças e adultos. Contudo, a autora não foi importante apenas por isso.
Sophia de Mello Breyner dispensa apresentações, e não hesito em afirmar que, pelo menos, a maioria dos portugueses já se cruzou com alguma obra da autora em questão. Talvez em contos (como os Contos Exemplares, de 1962), em poesia (como o Dual, de 1972), talvez na infância (como em A Fada Oriana, de 1958) ou mesmo na idade adulta (como o Livro Sexto, de 2003). Sublinhemos somente que a escritora não foi, definitivamente, “mais uma”.
A ex-estudante em Filologia Clássica pela Universidade de Lisboa (não licenciada porque abandonou o curso) chegou a afirmar que a maior parte da sua obra (principalmente os contos infantis) nasceu por ter cinco filhos. Os últimos nasceram do casamento com o advogado Francisco Sousa Tavares e não nos são, também, de todo, desconhecidos. Tomemos como exemplo o jornalista, comentador e escritor Miguel Sousa Tavares.
Independentemente da razão que levou Sophia a escrever, concordemos apenas que escreveu, e escreveu bem. Não só em quantidade, mas em qualidade, e isto não é uma opinião minha. Sophia de Mello Breyner foi galardoada inúmeras vezes. Em 1998, foi agraciada com um Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro e, em 2003, recebeu o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana.
Não esqueçamos ainda que, em 1999, se tornou a primeira mulher a ganhar o Prémio Camões, para não falar do busto que podemos encontrar no Jardim Botânico do Porto. Contudo, o reconhecimento não parou com a sua morte. Em 2014, a Assembleia da República decidiu, por unanimidade, conceder-lhe um lugar no Panteão Nacional.
A obra de Sophia de Mello Breyner falava um pouco de tudo. Determinadamente influenciada por uma paixão pela cultura grega, escrevia sobre a luz e a noite, mas abordava ainda a pureza, a liberdade, o amor e até a política (olhemos, por exemplo, para quando, de cravos e palavras na espingarda, chamou “velho abutre” ao ditador). Há, no entanto, uma forte referência a forças da natureza, principalmente ao mar.
Também, amante do que é simples na vida, chegou a dizer que “a terra o sol o vento o mar / São a minha biografia e são o meu rosto”. A escritora era, sem dúvida, uma mente para lá da sua época e sempre aberta a mudanças, porque “De tudo quanto vejo me acrescento”.
A autora não se dedicou apenas às suas obras como singular. Chegou a colaborar na revista Cadernos de Poesia, onde travou amizades com outros escritores reconhecidos (como é o caso de Jorge de Sena). E, como se já não fosse o suficiente, não se deixou ficar pela escrita. Para além de ter traduzido várias obras de Dante e Shakespeare para português e algumas de Fernando Pessoa para francês, ainda se envolveu na política.
Peça fundamental na denúncia do regime salazarista e das figuras mais representativas da atitude política liberal, Sophia de Mello Breyner chegou a ser membro da Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos. No ano de 1975, assumiu o cargo como deputada do Partido Socialista do pós-25 de Abril.
Ao avaliar a atitude política, as traduções exímias ou a obra fascinante, só nos resta rematar com um “Que pessoa extraordinária!”. Talvez o rapaz não tivesse que explicar a “saudade” à Menina do Mar, se ela soubesse o que Portugal sente face a Sophia de Mello Breyner.