Corria o ano de 1997 quando surgiu a ideia do Projeto Gemini. 22 anos depois, chega ao grande ecrã a longa-metragem que tem como protagonista Will Smith e se apresenta como uma metamorfose do cinema moderno.

Quando num só filme se juntam nomes como Ang Lee e Will Smith, a fasquia é elevada. Lee venceu o Óscar de Melhor Realizador com O Segredo de Brokeback Mountain (2005) e A Vida de Pi (2012), enquanto o ator foi nomeado múltiplas vezes para os Globos de Ouro e vencedor de um Óscar.

Projeto Gemini

É impossível negar os avanços tecnológicos e cinematográficos que acompanham Projeto Gemini, mas o enredo fica demasiado aquém. Das perseguições nas ruas de Cartagena aos confrontos num museu em Budapeste, a narrativa prende-se em situações de tiroteios e lutas corpo a corpo, que nos transportam um pouco por todo o mundo. É caso para dizer que nem todos os tiros são certeiros.

Henry Brogan (Will Smith) é um assassino veterano que descobre algo que não deve e é perseguido e atacado por uma figura misteriosa que prevê todos os seus passos. Acompanhado pela agente secreta Danny Zackarweski (Mary Elizabeth Winstead) e pelo amigo Baron (Benedict Wong), Henry está em constante luta com fantasmas antigos.

Contudo, o protagonista vai ter de, literalmente, enfrentar o seu passado, uma vez que quem o persegue não é nada mais, nada menos, do que um clone seu de 25 anos. Interpretado por Clive Owen, Clay Vernis é o cérebro por detrás do esquema, ou seja, o vilão da intriga.

Projeto Gemini

Todo o conceito da ação é uma ideia perspicaz, mas o desejo de oferecer algo novo não está lá. Convencionalmente, um filme tem 24 frames por segundo. No entanto, Projeto Gemini conta com 120 frames. O resultado é desconcertante: saltos assombrosos, cenas de luta e disparos fazem da ação o ponto forte do filme. Os efeitos digitais estão, também, ao serviço de Júnior, o clone de Henry, o que o torna hiper-realista. Ainda que algumas cenas estejam longe do credível, a nível estético o objetivo é atingido.

Costuma dizer-se que a melhor forma de prender o espectador ao ecrã é ter uma boa história para lhe contar, um aspeto de que este filme carece. A extravagância sai, por isso mesmo, cara, dada a preocupação excessiva com a técnica neste novo formato cinematográfico, que tira o protagonismo ao enredo. Além disso, as pontas soltas não nos deixam envolver na trama. Os diálogos são pouco engenhosos e pobres e as personagens pouco aprofundadas.

Projeto Gemini

A prestação de Will Smith, quer como Henry, quer como Júnior (o clone), é incontestável em todos os aspetos. A genialidade do ator está mais que vincada e não precisamos que nos convença de nada mais. Ang Lee, por sua vez, também destaca as suas habilidades enquanto cineasta experiente. Como já foi referido, a experiência visual é interessante, mas o filme não passa muito dos limites entre matar e tentar não morrer.

A lógica falha, a tecnologia, por vezes, também, e não nos resta mais do que admirar algumas cenas de ação. Tudo aponta para que o 3D+ ainda tenha um longo caminho por percorrer. Projeto Gemini desilude, na medida em que é dono de um argumento incongruente, que coloca a história em função da tecnologia e não o oposto.