Uma luva pousada sobre a alma que de súbito cai devido à agitação e à verdade crua, deixando o íntimo despido. TIMBER esculpiu, desta forma, uma performance arrojada.
Na passada noite de sexta-feira, dia 8, o palco do Theatro Circo recebeu TIMBER, um misto de dança e percussão que nos levou às profundezas da existência. TIMBER surgiu como produto do desafio proposto pela Companhia Instável e pelo Druming GP ao premiado coreógrafo Roberto Olivan.
Sala escura. Algumas luzes ligavam lentamente. Seis bailarinos e seis percussionistas. Num cenário de total incerteza, o palco encheu-se de batocadas, piruetas, quedas, rastejos no chão e corridas desmedidas. Como uma premissa representativa do desejo por quebrar barreiras e atingir o verdadeiro auge da liberdade, tudo aquilo despertava na plateia sentimentos ímpares, desde compaixão a dubiedade.
Os bailarinos cobriam o corpo com roupas em tons de cinza e bege, contudo um deles era mais arriscado e usava calças com padrão leopardo. A força, a destreza e a coordenação dos artistas era notória. Em certo instante, começaram a andar aos “S’s” até se colocarem todos em fila, agarrados entre si, do mais baixo para o mais alto. Às voltas no palco, a fila, tão certa e coerente, desfez-se.
Num outro momento, pareciam lutar todos ao centro, tocando-se intensamente, exibindo posições autênticas. Um deles levantou-se e começou a apontar o dedo à plateia, repetidamente. Os restantes fizeram o mesmo, até se revoltarem uns com os outros, julgando-se entre si. O quão fácil é apontar o dedo e julgar os outros é, talvez, uma das maiores ações do Homem e, ao mesmo tempo, um dos grandes medos.
Os dançarinos formaram uma linha e aí tremiam, esbracejavam, apalpavam-se a si próprios, de forma frenética. Ficou um sozinho a rir bem alto e, assim, terminou a performance. O público agradeceu esta atuação com uma exaustiva salva de palmas.