Se há algo comum a toda a música é a nudez com que se apresenta a alma de quem a canta. Weyes Blood despiu-se para dar lugar ao intimismo.

No quarto escuro do Gnration, Weyes Blood acendeu candeeiros de mesinha de cabeceira para introduzir os espetadores num universo reservado. Na noite de terça feira, a cantora norte americana, Natalie Mering de nome de batismo, apresentou-se de uma forma meio tímida, contrastando com a consequente abertura e amplitude do seu mundo interior.

O álbum que veio apresentar, Titanic Rising, é uma coletânea de ondas de lamentações, sonhos e conflitos, nos meandros de uma sensibilidade aguda, debruçada sobre os problemas da cantautora e do mundo pós-moderno.

No Gnration, casa que Weyes Blood já tinha visitado em 2015, Titanic Rising foi o submergir num lugar íntimo e tocante, que fez lembrar ao mesmo tempo uma garagem onde ensaia uma banda de adolescentes e um altar de uma enorme catedral. Tudo sempre no fundo do mar. Todo o cenário visual, como pequenas luzes laranja que se destacaram das ondas de água projetadas no palco, reforçaram a mensagem subjacente no álbum.

Mensagem essa de que é possível encontrar um lugar seguro quando tudo parece afundar-se em redor, desde as relações pessoais às circunstâncias do mundo cada vez mais desconexas e asfixiantes. Este é também o trabalho da cantora em que mais se notam as influências gospel que lhe chegam dos tempos de infância e, simultaneamente, o caos da noise music (estilo com que se estreou no mundo da música).

Quase como uma ópera moderna, a voz de Weyes Blood teve algo de catártico ao projetar-se sobre o denso instrumental repleto de reverberações e ecos. Foi, portanto, irrecusável o convite da cantora de deixar o público levar pela corrente de um glam rock introspetivo.

Já no fim do concerto, Weyes Blood recordou com saudade alguns dos temas do seu terceiro álbum The Innocents, com que tinha presenteado Braga há cinco anos. Só com guitarra e voz, a cantora provou que não precisa de grandes arranjos para chegar à plateia. Notou-se também uma grande diferença no registo de Natalie face às versões originais dos temas de The Innocents.

Titanic Rising é o quarto álbum de estúdio de Weyes Blood e recebeu grandes elogios da crítica internacional, tendo sido considerado pela Pitchfork como um dos trabalhos do ano.