No passado dia 12 de novembro, a Renascença lançou uma reportagem sob o título “Youtubers publicitam páginas ilegais de apostas em Portugal”. Wuant foi um dos youtubers a responder à polémica, queixando-se de “ditadura” na plataforma de vídeos. Onde fica o bom senso para ganhar dinheiro como youtuber – a nova profissão do século – ou para fazer reportagens sobre estes novos meios sem sentido de descrença?

Grande parte dos youtubers mais conhecidos em Portugal estavam a publicitar dentro dos seus vídeos dois sites de jogos: o Blaze e o Drakemall, sendo que ambos têm licenças fora do território português. O primeiro já não está a operar em Portugal. Quanto ao Drakemall, um jogo de compra de caixas mistério, a legislação portuguesa não o consegue encaixar num jogo de azar. Não havendo leis de regulação para este tipo de jogo ou qualquer investigação do caso pela justiça, o site continua a funcionar.

A reportagem da Renascença culpabiliza os youtubers de explorar o seu público-alvo, alegadamente crianças, e de criar conteúdo e publicidade perigosos para os mesmos. No entanto, apesar da evolução da legislação ao longo dos anos, continuamos a ver cadeias multinacionais a promover hábitos de alimentação ou de consumo direcionadas a crianças, desde comidas não saudáveis a brinquedos sem fim. Porém, não acusamos essas publicidades de “controlar” as crianças, apenas as ensinamos que “aquilo” não é saudável ou não é possível ter. Porque não fazemos o mesmo com o consumo de conteúdos na internet?

Outra contestação feita pelo órgão de comunicação social passa pela falta de clareza quanto ao valor da remuneração que esses sites de jogos pagaram aos youtubers pelo conteúdo publicitado. Para isso, faço uma questão: quando nas novelas ou conteúdos ficcionais flagrantemente fazem publicidade a produtos ou marcas também aparece, em letras pequenas, a dizer que a produção está a ganhar dinheiro com aquilo e qual o valor exato desse rendimento? Não. E, por isso, o mesmo não deve ser pedido a youtubers ou a outra qualquer nova forma de trabalho.

Wuant aproveitou esta algazarra para se queixar que alguns dos seus vídeos foram bloqueados por não cumprirem regras da plataforma. Regras essas, segundo o mesmo, lançadas há poucos dias, que impõem restrições a publicidades feitas nos vídeos, pelo facto do Youtube já oferecer anúncios pagos aos criadores. Para além disto, a plataforma também retira o lucro de vídeos por estes não cumprirem outras regras. Por isso, Wuant e outros youtubers queixam-se de o Youtube já não ser o mesmo e da falta de liberdade de criação atual da plataforma.

A culpabilização da Renascença feita a alguns youtubers por promoverem sites de jogos ilegais é incontornável e demonstra uma grave falta de profissionalismo por parte dos jovens. Claro que era de total responsabilidade e interesse dos youtubers prestarem atenção ao que publicitam, devendo estes responder à justiça. No entanto, as acusações da Renascença aos youtubers excederam esse campo.

Sirkazzio, Wuant, Windoh, entre outros, estão a fazer o seu trabalho e a ganhar dinheiro com isso, tal como qualquer outro emprego. Podemos acusá-los de ser má influência para crianças, quando o seu conteúdo não é sinalizado para menores? Ou podemos acusar os pais de não controlarem os consumos dos filhos, estando estes expostos a todo o tipo de conteúdo online?

Quando se fala em novas plataformas e novas ferramentas para ganhar dinheiro, parece haver ainda muito ceticismo. Os jovens criadores têm, sem dúvida, responsabilidades. Mas também têm o direito de fazer a sua carreira e modo de vida sem serem desacreditados.