Amazing Grace estreou a 12 de setembro de 2019 em Portugal. Um documentário que permite ao mundo sentir o Gospel por intermédio da voz da rainha do Soul, Aretha Franklin, e que abre portas a um paraíso espiritual desconhecido.

O trabalho não pode ser visto como um simples documentário. A rainha do Soul mergulhou na sua criatividade e iluminou o mundo com um álbum gravado ao vivo. Por isso, o filme deve ser interpretado como uma experiência única, em que a espiritualidade renasce ao som da voz poderosa e purificadora de Aretha Franklin.

Amazing Grace

A guiar uma câmara, Sydney Pollack registou toda a magia de duas noites numa Igreja Batista, em Los Angeles, no ano de 1972. A “First Lady” do Soul era a estrela, mas não atuou sozinha. Contou com o contributo de James Cleveland e do Southern California Community Choir. Um álbum que remete à infância da cantora, passada na igreja a preencher os seus recantos com a pujança das suas cordas vocais.

A lente da câmara do diretor seguiu atentamente aquilo que é a inevitabilidade das emoções dos presentes. O que de singular as igrejas Gospel possuem é o ouvir para sentir. As letras não são meramente palavras que se fundem com os sons do órgão e do piano. Carregam o peso de histórias que a uma comunidade há séculos renegada tanto dizem. Braços no ar e até alguns “Hallelujah” proferidos tomam conta da maior parte do filme.

Amazing Grace

Mas é quando Amazing Grace passa a música que a perfeição é atingida. O notório hino do movimento dos direitos civis ganha vida na voz da protagonista. Após uma década de sofrimento na luta pela liberdade, em 1972, Aretha Franklin é capaz de, numa igreja, reunir todos aqueles que nessa batalha se reviram. A dolorosa bagagem do interminável tempo da injustiça transparece nas emoções e nas lágrimas dos que se rendem à voz da artista. No fundo, a meta de Sydney Pollack era demonstrar com exatidão o poder da música. Conseguiu.

Na ideia que era o documentário sobre um álbum Gospel gravado ao vivo, o diretor exemplifica o que a simplicidade de uma câmara consegue providenciar. Apesar de problemas técnicos o terem impossibilitado de terminar o trabalgo, a beleza do produto final não desvanece. O público é introduzido numa experiência que evoca a espiritualidade e que não quebra as expectativas.

Aretha Franklin abandonou-nos a 16 de agosto de 2018. Contudo, o seu legado foi deixado e o seu espírito permanece. A sua arte ficou e Amazing Grace justifica as nomeações e a positiva crítica que recebeu. É uma lembrança do quão viva a artista ainda é. E, independentemente da crença de cada um, é unânime reconhecer que a efemeridade da vida nunca realmente cessa este fogo que é a alma da cantora.