Relíquia! Uma palavra requintada de extrema beleza e valor que, assim expressa, dá a parecer que algo é iluminado na nossa mente. É deste modo que caracterizo esta dita masterpiece de 1972, composta pela mítica e uma das mais influenciáveis bandas de Rock de todos os tempos, Deep Purple.
No ano de 1971, entre os dias 6 e 21 de Dezembro, Machine Head era gravado num hotel situado em Montreux, Suíça, através de um estúdio móvel da famosa banda britânica Rolling Stones. Nesta altura, Deep Purple era composta pela sua formação original, cinco virtuosos músicos de Inglaterra: Ritchie Blackmore (guitarra rítmica/solo), Ian Gillan (voz/harmónica), Roger Glover (baixo), Jon Lord (teclas) e Ian Peice (bateria/percussão).
Elaborado por 7 temas, a sua composição é derivada do Blues com uns toques do erudito (barroco e o clássico) com a duração total de 37:47 minutos. Tempos desconstruidos em contra-tempos e harmonias exóticas partindo de escalas pentatónicas com menores harmónicas, são o núcleo desta magnifica obra-de-arte. Foi também um álbum muito importante no desenvolvimento do Heavy Metal, devido à sonoridade mais “pesada” criada para a altura em que se encontravam.
Sendo assim, faço o destaque nos mais conhecidos temas: “Highway Star” e “Smoke on The Water“. Esta primeira faixa do álbum foi um tema composto no autocarro da tourné, quando, numa entrevista, um jornalista lhes perguntou qual a maneira de eles comporem as suas músicas. Ritchie Blackmore, não tem mais nada e pega na sua guitarra e toca um riff acelarado acabado de ser improvisado. Conforme a letra está escrita, dá para sentir tudo detalhadamente o que Gillan nos pretende fazer sentir.
Velocidade, êxtase e euforia são os pontos focados na mente da personagem principal situado nas primeiras estrofes. À medida que vai fazendo a sua viagem, vai gabando-se do seu próprio carro – mais rápido do que a velocidade do som, ou como ele próprio o descreve, “Oooh it’s a killing machine“, que ao mesmo tempo, mostra-nos o seu lado obsessivo pelo mesmo “I love it, I need it, I bleed it“. Isto tudo derivado a sua maior perdição, uma mulher “I love her, I need her, I seed her. She turns me on…“, é a verdadeira causa deste fusão de sentimentos. Em relação ao instrumental, são 6:09 de puro Rock, uma intro completamente inconfundível com outro tema do mesmo estilo.
A entrada começa por ser tocada por acordes vindos da guitarra acompanhada pelo baixo, até que acabam por fazer a marcação da pulsação do tempo em que a tocam. Segundos após essa entrada, entra Jon Lord com o seu brutal Hammond em contra-tempo dos tempos marcados acima referidos, ou seja, criando uma dinâmica rítmica muito intensa seguida um grito de Gillan que se vai surgindo ao preparar a entrada para os primeiros versos. O que mais se destaca neste tema é o poderosíssimo solo de Jon Lord, elaborado por magníficos arpejos maiores com menores acabando em escala menor harmónica em modo descendente. Aqui nos chama a atenção a tal inspiração do barroco de Bach.
Basta serem tocados os primeiros 10 segundos da faixa que se acaba logo por reconhecer o tema de que se trata. “SMOKE ON THE WATER” é inspirado na 5º Sinfonia de Beethoven e ficou um dos Riffs de guitarra mais conhecidos na história do Rock. Como diz Blackmore, é um riff para ser tocado sem palheta para conseguir tocar e deixar soar as duas cordas em simultâneo. Neste tema, o auge encontra-se no momento do solo em que a Stratocaster de Blackmore, de uma forma tão suave, simples e delicada, começa a dar as primeiras notas.
Trata-se de um solo à base de escala pentatónica percorrendo o braço da guitarra por inteiro, de 8ª em 8ª, assim sendo uma excelente e sentida execução. Já a letra, é inspirada num incêndio que se surgiu durante um concerto de Frank Zappa no Casino de Montreux ao qual Deep Purple tinham sido convidados a assistir.
A recepção do álbum foi brutal. Atingiu o número um do ranking da UK Single Charts com críticas bem positivas devido à complexidade e método como foi composto dando assim o som inconfundível de Machine Head em comparação a outros álbuns da mesma altura. Para quem é amante do verdadeiro Rock, recomendo este álbum porque toda a sua essência está lá contida. Desde o Clássico ao Blues, do Hard ao Heavy.
Artista: Deep Purple
Álbum: Machine Head
Editora: Warner Bros Records
Data de lançamento: 25 de março de 1972