Feminismo, protestos contra a violência, machismo e uma autoafirmação em busca de força frente a tantos contratempos fazem parte do diálogo de Drik Barbosa no seu primeiro álbum. O trabalho que recebeu o nome da artista como título foi lançado a 11 de Outubro de 2019 e mostra a capacidade da rapper paulista em trafegar com desenvoltura por diferentes géneros de forma bem-sucedida.
Com onze faixas e diversas parcerias, o disco tem Dancehall, Pagode, R&B e Funk, tudo embalado com uma potência Pop muito forte. Sem deixar, claro, de reforçar uma visão muito particular do Hip Hop.
Rimas cruas e esperançosas inauguram o álbum. “Herança” tem a colaboração de Anna Tréa e inicia dando ênfase aos versos de Drik, quase sem instrumental. É uma música que cruza a sua história pessoal com a vida de todas as pessoas inspirando-as a não desistirem.
No refrão ouvimos uma colagem, “Tenho certeza absoluta que nenhum negro nesse país respira tranquilamente“, que aborda uma das questões mais presentes do disco: o racismo estrutural. A frase foi retirada de uma entrevista de Taís Araújo, uma atriz brasileira, quando questionada sobre o que é ser mulher negra no Brasil.
“Liberdade” é cantada com uma batida contagiante. A canção, completa pela presença da rapper britânica R.A.E. e Luedji Luna, ainda que num universo mais Pop, sustenta nos versos uma importante reflexão sobre machismo, empoderamento feminino e abuso sexual.
“Garotos se perdem, esquece a hora de dormir / Falando de mais, quem fala não faz / Já percebi que / Tem muita ideia e pouca ação“, rima Luna, preparando o terreno para a chegada do refrão: “Menino, atenção, menino / Não é à toa que liberdade é no feminino“.
A mesma direção temática acaba por se refletir mais à frente, em “Rosas”. “Sou ascensão / Vim de baixo, debaixo da opressão / Complexa demais pra sua compreensão / Visão periférica, voz periférica / Coloco o ego desses boy na minha mão/ Quero mais que kits, era Nefertiti“, pontua. São pouco mais de quatro minutos em que Barbosa vai de pequenas conquistas pessoais à força da mulher negra, num Trap que ostenta a sua vitória.
Entretanto, para além do forte discurso político a componente criativa também contribuiu para o fortalecimento da obra. Exemplo disso está no misto de Pagode romântico e R&B que toma conta de “Tentação”.
Encontro com os baianos do ÀTTØØXXÁ, a canção segue numa mistura de canto e rima, com versos românticos e envolventes “Nega, eu tô com saudade / A cama tá tão fria sem você / Cê sabe que eu tô na maldade / Desejo invade pra gente ser / Só love que nem pagode dos 90”.
Uma das principais músicas deste novo trabalho e primeiro single a ser lançado, “Quem Tem Joga” tem a colaboração de Gloria Groove e Karol Conká. A ideia da canção é falar sobre a falta de respeito que existe com tudo aquilo que vai contra o que é tido como “padrão” // “norma”.
Emicida e Rael chegam pra iluminar o disco em “Luz”. Num R&B mais experimental, os artistas cantam a esperança, “Luz, vem pra iluminar/ É tanta neblina, tensão desanima/Mas só que eu sou luz/Que na escuridão clareia”.
Fechando o álbum em altíssimo nível, “Sonhando” tem um tom tranquilo e é uma justa exaltação às mulheres da música, citando pessoas como Dina Di, Gizza e Negra Li. No refrão canta tudo o que parece estar a sonhar, como forma de agradecimento: “Vendo tudo isso que eu ando vivendo/É tenso, mas Oxum vai me guiando/Vou compartilhando e aprendendo/Sério, às vez eu penso que eu tô sonhando”.
Em sequência ao material entregue no antecessor EP Espelho, o mais recente trabalho de Drik Barbosa parece jogar com possibilidades, utilizando a liberdade criativa como um estímulo natural para a composição das faixas. Trata-se de uma obra conscientemente irregular, como se a rapper paulista testasse os próprios limites dentro de estúdio. Toda a mensagem política e de luta da estreia de Drik mostra-se bem entrosada com um apuro Pop muito marcado e uma produção sofisticada que a coloca no pelotão da frente do Pop e do Rap brasileiro.
Artista: Drik Barbosa
Álbum: Drik Barbosa
Data de lançamento: 11 De Outubro de 2019
Editora: Laboratório Fantasma