Florbela Espanca, mulher portuguesa, muito dona de si. Uma romântica incurável. Apaixonada. Escritora, poeta, jornalista. Aclamadora do feminino. Primada, guerreira. Exatamente 36 anos se passaram desde o dia em que nasceu e em que morreu, 8 de dezembro. Assim, este domingo, após 125 anos, relembra-se uma vida dedicada à arte da escrita e o seu poder.
Nasceu em 1894, no Alentejo. Deu os primeiros passos na escrita ainda muito menina, com os poemas “A Vida e a Morte”, “No dia d’anos” e o conto “Mamã”. Já nessa altura preenchia a literatura portuguesa com a sua peculiar adesão á melancolia e tristeza. Decidiu continuar os estudos para além do ensino primário. Deste modo, foi uma das primeiras mulheres a ingressar no ensino secundário, algo incomum para a época em que se vivia.
É neste período que se aventura pela escrita de outros autores e que desenvolve a sua. Não absteve a sua sede de conhecimentos e decidiu inscrever-se na Faculdade de Direito, em Lisboa. No entanto, não chegou a completar o curso. O seu caminho foi marcado por amores e desamores, por uma constante procura pelo seu príncipe encantado. Foi por isto assim que se divorciou e casou três vezes.
Fruto de um transtorno mental, tentou suicidar-se em 1928. Felizmente sobreviveu. Em 1930, começou a escrever o Diário do Último Ano e, durante esse tempo, tentou suicidar-se várias vezes. Conseguiu fazê-lo no seu 36º aniversário. Morreu como possuidora única das leis da vida. Em vida, apenas viu publicadas duas das suas obras. O primeiro foi Livro de Mágoas, em 1919, e o segundo o Livro de Sóror Saudade, em 1923. Obras como Charneca em Flor (1931), As Máscaras do Destino (1931), Sonetos Completos (1934), Diário do Último Ano (1981) e O Dominó Preto (1982) são publicados postumamente.
Florbela Espanca caracteriza a escrita portuguesa ao tentar desemaranhar as suas emoções e ao expor pontual e absolutamente o que sente. O sofrimento, drama, mágoa e solidão são traços regulares presentes nos seus sonetos, em contraste com a sua vontade de ser feliz, que muitas vezes era exposta. Faz bailar os leitores por entre as suas histórias, controvérsias, ambições, questões, sonhos e realidade, quando os expõe às suas cartas, contos ou poemas.
Marca a sociedade da época com a sua distinta e revigorada posição como mulher. Era mal vista, devido aos seus vários divórcios e casamentos. Porém, num tempo em que poucas mulheres eram devidamente letradas, a escritora teve a capacidade de se alargar nos estudos. Ingressou num curso, matriculou-se em Direito e apresentou-se como uma das poucas mulheres no meio de centenas de homens. Foi ainda uma das primeiras feministas em Portugal, ao exaltar sempre as mulheres, as suas ações e desejos na sua escrita.
A batalha de Florbela Espanca com a vida permitiu-lhe deixar um legado de palavras indiscutíveis na história portuguesa. Após a sua morte, os seus poemas difundiram-se e fizeram enorme sucesso. E, hoje, guardamos os mais lindos versos que esta fez e ainda os dizemos, “cantando a toda a gente”.