John le Carré é sinónimo de romances de espionagem. A maior parte da sua obra tem como plano de fundo a Guerra Fria. Contudo, nos últimos anos tem vindo a modernizar o contexto da sua obra. Posto isto, nasce Agente em Campo, uma narrativa moderna, que empurra o autor para o posto de escritor da atualidade.

Nat é o protagonista. O veterano dos Serviços Secretos Britânicos, perto dos 50 anos de idade, está de regresso a Londres para junto da sua família. Porém, face à crescente ameaça do centro de Moscovo, a Repartição tem mais uma missão para ele.

A obra, ao contrário do que estamos habituados em livros de espionagem, aborda temas como o atual presidente dos Estados Unidos da América e a controversa situação do Brexit. Considero-a, portanto, não só atual, como pertinente. No entanto, enalteça-se a escrita de le Carré, que torna a digestão destes assuntos mais “pesados”, aceitável. Com frases acessíveis (mas, por vezes, um pouco compridas) e com vislumbres de humor, intercalados com momentos de pura seriedade, facilmente mantemos o interesse e a atenção de início a fim.

John le Carré

Quanto ao enredo, não o consigo considerar previsível. A escrita, o conceito e as situações criam, em certos momentos, uma atmosfera de tensão que é difícil de largar. O facto de a linguagem ser bastante acessível ajuda, também, a que a leitura se faça de forma fluída, o que faz com que seja fácil ficarmos embrenhados na história.

As personagens estão, também, muito bem construídas. Realço três: Nat, o protagonista, e Steff e Prue, filha e mulher do primeiro, respetivamente. Quanto ao veterano, são fator de destaque o seu humor e a descrição que faz de algumas situações, que nos arrancam, várias vezes, um sorriso (visto que a estória é contada por ele). Já personagens femininas, destaco-as por outro motivo. São elas, juntamente com os momentos e situações familiares, que tornam Nat mais “palpável” para o leitor. Isto devido ao facto da realidade nos ser a todos tão distante, apesar de atual.

No geral, Agente em Campo é uma obra genial para qualquer leitor. Para quem adora o género ou para quem não gosta, por tratar, normalmente, situações relativamente ultrapassadas. Para quem tem medo, por temer não perceber o vocabulário ou, ainda, para quem lê qualquer coisa, desde que seja bom.