As Virgens Suicidas trata a história dos últimos dias de vida de cinco irmãs, retratados aos olhos de quem procura explicações para as suas mortes tão prematuras. Uma longa-metragem evidenciada como quem vê uma fotografia.

É mais um livro que ganha vida nos ecrãs. O romance, escrito por Jeffrey Eugenides Kent torna-se o filme, escrito e dirigido por Sofia Carmina Coppola. Um trabalho isento de ação, neutro e fácil que aborda o suicídio como uma pessoa aborda um retrato.

As Virgens Suicidas

A história é apresentada pelo olhar atento de um grupo de jovens que tenta encontrar explicações e perceber o suicídio de cinco irmãs: Cecília, Therese, Mary, Bonnie e Lux. As raparigas eram alvo de admiração pela sua beleza e mistério e apresentavam uma vida limitada pelos quereres paternos.

Quando a filha mais nova se tenta suicidar, os pais alteram a sua abordagem face á adolescência. Passam a permitir que as jovens se relacionem com rapazes, vão a um baile e ainda dão uma festa. Nesta última, Cecília consegue finalmente o que queria. À volta do seu suicídio vêm-se explicitos os comentários, notícias, boatos sociais e mexericos, mas nunca qualquer desgosto ou angústia por parte da família, apenas uma tristeza neutra. O filme não apresenta razões, nem emoções, apenas as ações. O espectador limita-se a ver e a tentar entender, o que o faz acabar a sentir pouco.

Após o sucedido, a família parece comportar-se normalmente, como se de um acontecimento banal se tratasse. A narrativa muda então de rumo e foca-se peculiarmente na irmã Lux e na sua rebeldia face à vontade dos pais. Por causa dos erros da rapariga, todas as irmãs se vêm limitadas ao interior da casa. No entanto, todas continuam a trocar mensagens com o grupo de rapazes e, um dia, convidam-nos a meio da noite para as visitar. Durante a visita, os jovens acabam por encontrar os corpos das restantes irmãs, nas várias divisões.

As Virgens Suicidas

É tudo muito abstrato e isento de emoção. As Virgens Suicidas não é revigorado ou ágil. O que há de mais forte no filme é o movimento e o agir das personagens, que acaba por ser o mínimo exigido pelo espectador. Porém, o facto de não se espelharem emoções permite perceber o objetivo da obra cinematográfica: apenas sabemos aquilo que os outros, os que estão fora do seio familiar, sabem ou percebe, acerca das mortes. Assim, mesmo que haja a necessidade de encontrar respostas para o suicídio das jovens, nunca as vamos ter. Quando a narrativa aponta para a desatenção paterna e para a rigorosidade materna, logo muda de rumo e expõe as falhas das jovens, o que não permite esclarecer diretamente as suas motivações.

Não há, ainda, atribuição de culpa. Nem há revelação de sentimentos ou esclarecimentos que permitam construir uma linha de eventos que pudessem levar às mortes. Apenas se dão as suas mortes, às quais o espectador assiste como se estivesse perante uma foto, um retrato. Vê os rostos, os corpos, quase um movimento. Pode deduzir o que sentem, mas não compreende, não há fundamento. Não se percebe se amam, se estão tristes ou o que as levou a tal. Para além disso, existem o falar alheio da comunidade, os pensamentos e comentários dos outros, como meros elogios da fotografia. Não se realça apenas a nossa relação com os que também assistem serenamente aos suicídios, mas transmite-se também a importância que estes atribuem ao fim das vidas das irmãs.

De entre grandes atores como James Woods, Kathleen Turner, Andrea Joy Cook, Leslie Hayman, Chelsea Swain e Hanna Hall, é Kirsten Dunst quem se destaca ligeiramente. A atriz representa uma das cinco irmãs, Lux, e evidencia vigorosamente a necessidade de explorar e viver, o poder juvenil. A admiração por parte da audiência assenta no facto da personagem se apresentar tão pontualmente na história, mas ser aquela que mais faz refletir e permite ao espectador sentir algo mais do que o básico nada.

As Virgens Suicidas

Ao longo da narrativa, um dos rapazes do grupo retrata e comenta os acontecimentos à medida estes se desenvolvem. Tenta encontrar soluções para as mortes e, do mesmo modo, expõe a curiosidade, admiração e paixão sentida pelas raparigas. Expõe também comportamentos e práticas das personagens, como se estivesse a apresentar evidências de um crime.

Os diálogos apresentam-se subtis e revelam muito, pelo que grande parte dos atos são envolvidos pela voz do narrador ou por sons naturais. A banda sonora não se envolve muito com a história no seu decorrer. Surge antes levemente e circunstancialmente.

As Virgens Suicidas reflete aquilo que somente se pode ver, põe de lado as explicações sentimentais e realça ideias comuns. Retrata o suicídio tal como ele é compreendido pelas pessoas que não são afetadas. É, em relação ao espectador, um filme semelhante a nada mais do que uma fotografia.