Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski, é indubitavelmente um marco importante na literatura mundial. A estória do jovem ex-estudante de direito prima não só pela ideia original na época em que foi lançada, como também pela descrição minuciosa do foro psicológico das personagens.

Rodion Românovitch Raskólnikov é o protagonista do romance em questão. Após ser arrebatado por algumas questões que lhe ocupam a cabeça, o jovem comete um crime. A propósito desta situação, é aberta a possibilidade de abordagem de questões religiosas, existenciais, de socialismo e de niilismo. Aliás, a obra influenciou e inspirou Nietzche, Sartre, Freud, Orwel e Huxley, pelo menos. Consta, inclusive, que o autor dotou a estória de traços autobiográficos um pouco perturbadores.

Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo

Os aspetos estilísticos de Dostoiévski posicionam Crime e Castigo num pedestal na literatura universal. Com frases de tamanho apropriado, um bom uso da pontuação e a abordagem intensa e perturbadora de alguns detalhes, é difícil largar a leitura.

Quanto ao enredo, a banalidade da condição das personagens faz com que facilmente nos interessemos, visto que não se trata de uma realidade completamente irreal ou distante (até porque me identifico com algum do senso de justiça social). A não previsibilidade de algumas situações é, também, um ponto crucial ao conferir a imersão do leitor.O estilo do autor tornou-se inconfundível. A reprodução da angústia psicológica, da introspeção, do neurótico, os vislumbres de culpa e tudo o resto, eximiamente descrito, faz-nos sentir que estamos a assistir a tudo em primeira mão.

A precisão descritiva, nomeadamente psicológica, é, sem dúvida, o maior ponto a focar na obra. A espessura das personagens é explorada de forma inovadora, mesmo tendo em conta os dias de hoje. A perda de controlo num momento do romance é relatada de tal forma que nos sentimos, igualmente, no abismo. Não me recordo de ficar tão incomodada e inquieta, de formas diferentes, desde os meus primeiros encontros com Allan Poe. Crime e Castigo é, então, genial, mas definitivamente longe da literatura light.