Em 1958, Frank Sinatra, o rei do Jazz, do Blues e do Swing, apresenta-nos Come Fly With Me. O álbum onde muitas das músicas não são da autoria do artista, mas onde facilmente o revemos, é uma compilação calma, elegante e reconfortante, mas um pesadelo para quem facilmente ganha vontade de viajar.

Ainda hoje, quase 22 anos após o seu falecimento, Frank Sinatra não foi esquecido. Seria difícil, visto que o artista teve uma longa carreira -quase 60 anos -e deixou-nos trabalhos excelentes e contemporâneos que são indissociáveis à sua cara. Aliás, tão indissociáveis, característicos e impactantes que já dei por mim a pensar em Sinatra como um género e a avaliar músicas pensado “Gosto. É muito Sinatra”.

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O artista revolucionou de tal modo o mundo da música, que muitos pensam que este produziu imensos hits quando, na verdade, se “limitou” a interpretá-los sendo hoje em dia mais associados a Sinatra do que aos verdadeiros autores. Exemplo disto são algumas das músicas que constituem o álbum Come Fly With Me.

Come Fly With Me é um álbum lançado com o intuito de ser uma viagem musical pelo mundo. Com uma rápida análise aos títulos percebemos que serão abordadas diversas cidades e países. As doze faixas misturam os sentimentos que o intérprete sente em diferentes cidades, as histórias de amor vividas nas mesmas e, por vezes, sem referir nenhum sítio em concreto, o sentimento de querer fugir de onde está.

Come fly with me”, a música que abre o álbum, “Around the World” e “Let’s Get away from it all” falam-nos da vontade do intérprete de viajar e, de preferência, com a amada. Ouvi-las, por vezes, torna-se um problema para mim que muito facilmente ganho uma vontade urgente de viajar. A necessidade de sair dos sítios que já se conhece, de sair da beira de todos aqueles que habitualmente nos rodeiam e de todos os problemas que estes dois cenários trazem consigo são o mote destas três desconcertantes e paradoxalmente reconfortantes canções.

Por sua vez, “Isle of Capri”, “It Happened in Monteray” e “Blue Hawaii” (que ganhou mais reconhecimento com a interpretação de Elvis Presley) configuram-se mais como uma espécie de cartas de amor ou narrativas amorosas. Apesar de algumas destas músicas não serem da autoria de Sinatra, não nos é difícil revê-lo nestas situações dada a sua notoriedade enquanto galã e bon-vivant e a sua admiração, em nada escondida, por mulheres (por vezes, casadas).

No que concerne a “Moonlight in Vermont”, “Autumn in New York”, “April in Paris”, “London By Night” e “Brazil”, funcionam como uma descrição minuciosa dos espaços em questão e ainda mais dos sentimentos que estas cidades/países nos trazem. O instrumental toma um papel importantíssimo neste objetivo em especial o saxofone e o piano que se esmeram no acompanhamento da voz. Acrescentam uma melodia nostálgica mas alegre que remete, de forma harmoniosa, para a imagem de Londres à noite.

Com o caráter deambulatório que reveste algumas das músicas e com as palavras escolhidas a dedo, temos a sensação que já conhecemos estas cidades, mesmo que nunca lá tenhamos estado. Destaco “Autumn in New York” – uma das músicas mais associadas a Sinatra, apesar de não ser de sua autoria. Arrisco-me a dizer que prefiro esta interpretação – à qual Salvador Sobral se igualou – à original de Billie Holiday.

Acabando com chave de ouro, temos “It’s Nice To Go Trav’ling” que funciona como uma antítese de “Let’s get away from it all”. Já quase no final do álbum, quando já comprámos o próximo bilhete de avião e estamos a meio da segunda mala, esta última música surge para nos relembrar que viajar é das melhores experiências a adquirir, mas não há nada como o sentimento de voltar a casa.

Quanto ao instrumental, é-me difícil individualizar pois o álbum é rico na quantidade de instrumentos. O óbvio saxofone e piano, mas também violino, trompete e por vezes harpa revestem o álbum de uma elegância ímpar que nos embrenha nesta viagem extraordinária.

Depois de ouvirem Come Fly With Me vão querer apanhar o próximo voo para Londres ou planear a estadia em Nova Iorque no Outono. Outro ponto de destaque é a versatilidade do álbum no que toca à altura perfeita para o ouvir. Enquanto cozinhamos, ao caminhar pela rua, a estudar ou num jantar mais requintado: não existe má altura para apreciarmos Sinatra.