As Mulherzinhas, dirigido e escrito por Greta Gerwig, é uma refrescante e contemporânea adaptação do livro de Louisa May Alcott. Transporta-nos para o século XIX americano com uma aura atual e com a qual nos conseguimos identificar.

O filme intercala a infância/adolescência das quatro filhas da família March, durante a guerra civil americana, e sete anos depois, já adultas e a construir as suas próprias vidas fora da casa nostálgica da família. Seguimos essencialmente Jo na sua carreira como escritora. É através dela que temos acesso a flashbacks da vida conjunta de todas as irmãs.

As Mulherzinhas

Meg, Jo, Amy e Beth representam personalidades e perspetivas de vida diferentes, ainda que todas tenham algo em comum: o amor e afeto que sentem pelas outras. Meg, como irmã mais velha, é a mais responsável e nutre um amor nato pelo teatro. Beth é timida, exceto quando está ao piano e Amy é amante de pintura e etiqueta, sendo talvez por isso a que mais choca com a energética escritora Jo. Antes do romance, da tragédia e das dores comuns do crescimento complicarem as coisas, elas eram uma equipa inseparável, se não sempre harmoniosa.

Greta Gerwig optou por não contar a história por ordem cronológica, o que mantém o espectador atento, ao confiar na sua capacidade de distinguir as épocas, que alternam entre o passado e o presente e a realidade de cada irmã. A primeira vez que assistimos pode parecer um pouco confuso, mas é facilmente distinguível numa segunda oportunidade. É óbvia a intencionalidade da realizadora em manter o público agarrado ao ecrã.

A banda sonora não se destaca e, por vezes, tornam-se evidentes as partes de diálogo gravadas em estúdio, o que acaba por ser distrativo. Assim, a única magia que nos envolve e capta na narrativa vem das performances notórias do elenco, com destaque para Saoirse Ronan (Jo), Florence Pugh (Amy) e Timothée Chalamet (Laurie), o triângulo que oferece romance à obra. Outro ponto forte é o guarda-roupa victoriano, da autoria de Jacqueline Durranque, que dá textura à produção e completa o cenário campestre de New England no século XIX.

As Mulherzinhas

A diretora dá às personagens o direito de se sentirem indignadas e revoltadas com o destino que todos esperam que sigam. Através do quotidiano e da simplicidade da família March, são nos revelados os sonhos e expectativas das jovens. A dinâmica das irmãs é também essencial. Desde o carinho à inveja, dos conflitos à cumplicidade, percebemos a pressão associada ao conformismo em relação às regras da sociedade. A rebeldia e o espírito livre de Jo são a esperança de que, apesar de tudo, conquistarão o final que merecem.

Para além disso, a realizadora atribui o papel de autora de Louisa Alcott a Jo, num final autoconsciente.  Admite, ainda no próprio filme, tratar-se da solução mais benéfica em termos económicos.

As Mulherzinhas é, então, um filme sincero e generoso, com uma inteligência crítica que se transfere para a modernidade. É uma ode às mulheres, desde as mais simples às mais complexas. Num tom simples e sincero, Greta Gerwig reconstrói uma das obras femininas mais marcantes dos últimos séculos e torna-a relevante nos dias de hoje. A produção está nomeada para seis Óscares. Destacam-se as categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz Principal (Saoirse Ronan) e Melhor Guião Adaptado.