Judy estreou em Portugal a 10 de outubro. Situado nos anos 60, é um filme autobiográfico da artista que foi, por muitos, considerada uma das melhores vozes da época de ouro de Hollywood, Judy Garland.
A longa-metragem apresenta o drama de uma estrela que está a ficar sem brilho. A parte real e, neste caso, triste por detrás de todo o luxo e glamour com que Hollywood nos ilude.
No filme, não nos relacionamos apenas com uma grande cantora e atriz que pisa grandes palcos, que marca presença no silverscreen, que tem sempre os ouvidos cheios de aplausos e cuja vista apenas alcança o flash dos paparazzi. Na realidade, vemos uma mulher cansada, com o espírito magoado e assombrada por fantasmas e memórias do passado. Alguém que sacrificou tudo na vida e já só quer estar com os seus filhos para os proteger. Neste filme, não vemos a Judy Garland. Vemos simplesmente Judy, um ser humano que está a tentar sobreviver e sarar as feridas.
Quem conseguiu interpretar a cantora com grande mestria foi Renée Zellweger. A atriz sensibilizou e emocionou. Até podemos não acreditar em reencarnações nem espíritos, mas graças à performance e excelente trabalho da caracterização, parece que temos a própria Judy a atuar no seu próprio trabalho autobiográfico. Desde a voz, à representação e à aparência, entre expressões, forma de andar e pormenores, toda a atuação é bastante credível. Nem por um segundo duvidamos que aquela não seja a verdadeira artista americana. Foi ainda graças a esta brilhante atuação que Renée Zellweger ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz.
Para além de vermos representados no grande ecrã os filhos da cantora, Liza Minelli (Gemma-Leah Devereux), Lorna Luft (Bella Ramsey) e Joey Luft (Lewin Lloyd), e ainda um dos seus ex-maridos Sid Luft (Rufus Sewell), Judy foca-se no romance da protagonista com o seu último marido, Mickey Deans (Finn Wittrock). É ainda retrada a relação de amizade da mulher com a sua assistente, Rosalyn Wilder (Jessie Buckley), que a acompanhou e apoiou até ao fim.
É percetível a leve crítica a Hollywood dos anos 40, 50 e 60, através de flashbacks da personagem principal aos seus tempos de adolescência. Neles, conseguimos perceber o quanto a cantora era pressionada e explorada. Judy Garland trabalhava durante muitas horas seguidas, tinha uma dieta restrita e controlada, era obrigada a tomar vários comprimidos e não tinha qualquer contacto com o mundo exterior.
Os cenários e a banda sonora conduzem-nos aos anos 60 com grande realismo. São bastante equilibrados e transmitem na perfeição a essência da cena que estamos a observar.
Em suma, Judy é um ótimo filme, com uma narrativa emocional sobre uma mulher totalmente estilhaçada, que apenas quer o melhor para os que ama e que faz o que for preciso por eles. Não é o filme da Judy Garland, mas sim da Judy, simplesmente.