Completam-se esta sexta-feira, dia 17 de janeiro, 25 anos desde a morte de Miguel Torga, desde o momento em que a sua humanidade, tão presente nas suas obras, se viu restringida ao legado de composições deixadas por si. São 25 anos passados desde o fim do grande humanista.
Adolfo Correio da Rocha autointitula-se Miguel Torga aquando da escolha do seu pseudónimo. E assim ficou relembrado: o escritor. Um dos maiores autores portugueses. O criador de Ansiedade (1928), Abismo (1932), A Criação do Mundo (1937), Bichos (1940), Libertação (1944), Sinfonia (1947), Portugal (1950) e de Penas do Purgatório (1954), entre muitos mais. Esquecemo-nos do Adolfo Correio da Rocha, mas Miguel Torga é por nós conhecido.
Nasceu no dia 12 de agosto de 1907 o tão aclamado homem. Na primeira década de vida, devido à sua insubmissão, viu-se despedido do seu trabalho enquanto porteiro, jardineiro, homem a dias e de recados. Já aí, independente e decidido a não ser padre, apenas estudou um ano no seminário de Lamego. Aprendeu português, as artes do latim e história. Com 13 anos, partiu para o Brasil. Ao regressar a Portugal, em Coimbra, matriculou-se em Medicina e acabou o curso com 26 anos.
Logo após a entrada na universidade, começou a eternizar-se. Publicou em 1928 o seu primeiro livro de poemas, Ansiedade. Ao último, seguiram-se muitos outros, como: Tributo (1931), Pão Ázimo (1931) e O Outro Livro de Job (1934). Ao concluir o curso, exerceu desde logo a sua profissão e perdeu-se na literatura.
Foi em 1934 que abandonou o seu nome e se passou a refugiar no pseudónimo. Este constituiu-se em homenagem a Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno, enquanto Torga se limita apenas à relação com uma planta brava. Com o novo nome, muita nova poesia e novos contos se criaram: Bichos (1940), Novos Contos da Montanha (1944), Libertação (1944), Cântico do Homem (1950) e Orfeu Rebelde (1958).
Marcou com as suas obras por espelhar o inconformismo sentido, a sua revolta perante os abusos de poder e a sua sede pela liberdade. Definiu-as ainda ao tentar dar voz aos que não a tinham. São exemplos: A Terceira Voz (1934), A Criação do Mundo (1937) e Traço de União (1955). Muitas outros trabalhos refletem o tempo em que vivia e o ambiente que o envolvia, os seus sentimentos, inquietações e expectativas.
Por não ser só uma mente ativa, mas por ser uma voz que se fez ouvir e expressar valores contra o salazarismo, Miguel Torga foi preso em 1940. No entanto, não se deixou restringir e voltou às críticas daquilo que afetava o seu mundo, na sua poesia, na sua prosa, nos seus teatros e diários. Descreveu o que o perturbava, expressou a posição altiva do Homem como aquele que cria e constitui vida, e como este se molda e se limita, explora Deus, a vida e a natureza.
Mais do que homem e mero escritor, aquilo que destacava o autor enquanto ser humano está explicito nos seus feitos enquanto pessoa das letras. Expunha e acrescentava-se. E, como tal, foi premiado e homenageado. Em 1989, foi agraciado com o prémio Camões e, em 1991, com o de Personalidade do Ano. Para além disto, vários prémios, bibliotecas e ruas adquiriram o seu nome.
Miguel Torga faleceu em 1995. Deixou-nos mais de 50 obras. A sua escrita permanece, bem como as suas palavras, emoções, contos e rimas e, com tudo isto, a sua humanidade.