O novo álbum de Sleeping at Last, Atlas II, lançado em novembro vem surpreender e encantar. Acompanhado pela delicadeza e intensidade esperada, o projeto explora aquilo que somos de forma  subtil.

Enquanto que o primeiro álbum Atlas I é composto por músicas que exploram as origens de tudo – como a escuridão, a luz, os planetas, –  Atlas II descobre e debate suavemente o desenvolvimento involuntário humano. Procura responder à pergunta “quem somos?”. O nascimento, a vida, os sentidos, as emoções e a inteligência são os temas das nove músicas que compões o eneagrama que é o projeto.

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O nascimento e vida são temas presentados logo nas primeiras três músicas do álbum. São introduzidos por uma música de abertura que oferece, através da sua melodia, seguimento para as outras. São músicas vivas e arrojadas. O ritmo coerente e mexido explica o crescimento e desenvolvimento de algo: neste caso do Homem.

A seguir ao nascimento e à vida seguem-se os sentidos. A suavidade e os padrões são explorados por cada faixa de forma singular. Cada sentido é exibido exclusivamente através de um toque musical simples e inédito, por batidas intrigantes e com uma forte união entre a pureza das letras com o poder dos instrumentos.

Em “Sight”  é possível notar-se esta relação – o poder da voz interligado à força dos instrumentos. Nesta música a letra explora a crença em Deus que é acompanhada por uma melodia rigorosa, que associamos diretamente à igreja, mas que serve para sobressair o tema abordado em si.

Hearing” por oposição não apresenta diretamente uma letra. A música é apenas repleta de sons : não se ouve a voz do cantor.  Obriga, por isso, a ouvir. A omissão de versos desperta ainda mais, a atenção do ouvinte. É notável o desenvolver de sons instrumentais e sussurros humanos, como se apresentassem uma história.

A alegria é abordada com uma energia muito positiva e um compasso energético em “Joy”. Foge ao esperado, não é preenchida por calmaria, mas espelha aqui que o nome simboliza. O ouvinte é capaz de sentir realmente a alegria que é suposto transmitir com esta.

O compasso acelera e brota em “Anger”. O aumento da velocidade do ritmo representa o acumular da raiva :“I feel the pressure building”. Quando o ritmo se torna mais subtil e parece até estancar é como se este sentimento se libertasse “it all spills out“.

Em oposição temos “Sorrow” e “Fear”, que se fazem notar pela desaceleração e mágoa. “Fear” surge também sem letra. Aparenta ser uma brincadeira entre o bater de um coração, uma corrida, o desespero e o tão acalmado desconhecido.

O eneagrama completa especialmente Atlas II. Todas as músicas atacam o espírito do ouvinte. Deixam-no num estado de calmaria seguido por uma necessidade de agir, motivado por uma euforia de pensamentos e sentimentos.

Atlas II é um projeto subtil, marcante e pacífico. As músicas são normalmente acompanhadas por uma melodia clássica. Marcadas (quase) todas elas pela presença do violino e por uma batida surpreendente, oferecem uma dinâmica coerente às músicas. Os ritmos peculiares fazem com que a melancolia e a paz não sejam oferecidos de bandeja.

Um álbum sublime, único e cru, tão cheio de significado. Só nos resta esperar que Atlas III svenha a ser tão admirável como Atlas II.