Passado mais de um mês da estreia de terceira temporada, The Crown sobe ao trono das melhores séries originais da Netflix. Com a troca de elenco entre as segunda e terceira temporadas, a produção tinha tudo para correr mal. No entanto, o feedback é positivo: a coroa de melhor série volta a ser pousada na vida de Isabel II.
“It’s my duty” (“É o meu dever”), diz a rainha, mais do que uma vez. E é dever dela suportar uma responsabilidade maior. Depois da estreia, em 2016, The Crown retornou no final de 2019 para uma terceira parte. Na nova temporada, é Olivia Colman, sucessora de Claire Foy, que nos conta a história de uma das mais importantes monarcas do Reino Unido. A intérprete herdou uma das tarefas mais difíceis no cinema: dar continuação à personagem que uma outra atriz já havia começado. Foi um processo de aprender a falar, comportar e andar. E não poderia ter saído melhor.
A fase mais pessoal e jovem de Isabel II ficou para trás. Nas duas primeiras temporadas, assistimos a uma rainha sem experiência, magoada pelo marido e desiludida com a irmã. Agora que já sabemos como funciona o Palácio de Buckingham, olhamos para uma vida diferente. No entanto, sempre com a mesma qualidade excecional com que a série nos habituou anteriormente. Desta vez, abrem-se outros horizontes, com episódios que, embora não tão pessoais, mostram uma família unida pelo dever e afastada pelo protocolo.
Quem é fã da irmã ofoscada, vê nesta temporada uma oportunidade para perceber melhor a vida da princesa Margaret (Helena Bonham Carter). O difícil é não simpatizar com a mulher que sempre quis ser rainha, mas teve o azar de nascer mais tarde. A princesa podia ser elegida a personagem da temporada: crescemos com uma criança destroçada, que foi proibida de casar com quem se apaixonou e que acabou por escolher o homem errado. Foi difícil para Olivia Colman combater um papel de tamanho sentimentalismo humano nos últimos episódios.
No entanto, a coroa de talento-surpresa pertence a outro membro da família: damos as boas vindas ao príncipe Charles (Josh O’Connor), filho de Isabel II. Um jovem que se prepara para ser rei é o mote para a introdução da personagem, apresentado como diferente em relação à família. Vive na sombra da mãe e, tal como o tio-avô e a tia, é afastado de quem gosta por uma causa maior: a imagem da coroa.
Josh O’Connor encarna a personagem com respeito e proximidade. Traz-nos um príncipe personificado pela postura, timidez e assertividade. Apesar de aparecer apenas a meio da temporada, não há competitividade possível. A esperança é que a quarta temporada, que contará com o mesmo elenco, possa ainda dar mais protagonismo ao sucessor da atual rainha.
Nestes novos dez episódios, encontramos uma Inglaterra dividida pelos seus cidadãos, fraturada pela economia instável e fragmentada pelas repetidas polémicas reais. Assistimos a um Reino Unido pró-europeísta, a desastres que marcaram a história do país e a um bailado de primeiros-ministros. Vemos histórias do lado de fora do palácio real num tom de série-documentário, sem necessitar de intrigas ou especulações. E é isso que distingue a produção da Netflix.
Mais uma vez, acertou-se nos planos, no guarda-roupa e, principalmente, nos silêncios. Mais do que uma série, The Crown é um marco na televisão pela sua forma de retratar a história. Não vemos apenas a vida de uma rainha. Conhecemos a história de um país que não se quer despedir de Isabel II. Por cá, pelo menos, vê-la-emos por mais três temporadas. “God save the Queen!”
Título Original: The Crown
Direção: Benjamin Caron, Samuel Donovan, Jessica Hobbs, Christian Schwochow
Argumento: Peter Morgan, Edward Hemming, Jon Brittain, Jonathan Wilson, James Graham, David Hancock
Elenco: OliviaColman, Tobias Menzies, Helena Bonham Carter
Reino Unido | EUA
2019