Após 13 anos do lançamento de Endless Wire, a banda inglesa dá sinais de vitalidade com a produção do seu mais recente disco homónimo Who. Distinto por triunfar o passado que já lá vai, este é um álbum que prova que, apesar do tempo ser fugaz, a capacidade de se fazer boa música consegue permanecer intacta.
Regido pelas qualidades de vigoroso e interessante, Who encarna em si uma viagem com destino aos tempos primordiais da banda. Conta com partes significativas destinadas a memórias e histórias que a caracterizam desde sempre.
Atualmente formada por Roger Daltrey e Pete Townshend, The Who faz deste álbum a junção de duas performances singulares onde, apesar de terem sido gravadas individualmente, se pode comprovar que a química entre os dois artistas ainda existe e faz faísca. Dentro de um ambiente musical coeso e diversificado, Who destaca-se pela criatividade sem limites que os músicos extraem um do outro, como se de um desafio se tratasse.
Composto por 14 músicas na totalidade, o 12º álbum de estúdio da banda inglesa apresenta-se em duas edições diferentes: a edição standard, que contém apenas 11 faixas, e a edição delux, que acarreta mais três faixas bónus. Apesar desta subdivisão, Who arrasta consigo um conteúdo lírico e musical enriquecedor que demonstra, com clareza, que os artistas ainda são capazes de tirar boas músicas da cartola.
O melhor lado do álbum recai sobre as faixas “All This Music Must Fade”, “Hero Ground Zero” e “I’ll Be Back”. A entrada num universo profundamente melancólico e nostálgico acontece com os primeiros segundos de “All This Music Must Fade”, a primeira faixa do disco.
Marcada por dinâmicas musicais distintas, a música faz transparecer a sensação de que o ouvinte está perante uma compilação de canções antigas da banda, tal como se tratasse de uma linha temporal completa dentro de três minutos. Precisamente por fazer um retorno a algo que já nos é familiar, a própria lírica diz-nos que “I don’t care / I know you’re gonna hate this song / And that’s fair / We never really got along / It’s not new, not diverse / It won’t light up your parade / It’s just simple verse”.
“Hero Ground Zero” também se destaca no alinhamento de Who. Apresenta-se com um arranjo grandioso com orquestra pelo que a música flui com um tom triunfal de princípio a fim. Marcada pela voz bem preservada de Daltrey, a faixa ganha a prepotência que é suposto ter devido ao tema que aborda (“I’m a hero ground zero / On my back is the heat of a new sunrise”).
“I’ll Be Back” ganha o título de melhor música deste projeto musical. Distinta pela melodia harmónica com que soa, apresenta-se como uma espécie de balada com toques de Soul. Repleta de momentos calmos e desanuviastes, a faixa desempenha o papel de lufada de ar fresco no projeto. A letra, de cariz sentimental, refere-se a um alguém que está prestes a partir, podendo ser encarada como uma carta de despedida (“What will survive is my consciousness / It’s what I guess / And when I’m alive again, you’ll be my happiness / Yes, yes, yes”).
Em contrapartida, a faixa que mais destoa do álbum é “Got Nothing To Prove”. Provavelmente devido à sua sonoridade “abafada”, que se faz acompanhar de uma voz monocórdica, a música torna-se uma carta fora do baralho. Apesar da complexidade sonora com que está produzida e, para além disso, do sentido de pertença ao passado, a faixa cria uma quebra no alinhamento do álbum que não deixa ninguém indiferente.
Who é um bom exemplo de que, apesar dos anos passarem, a qualidade musical é uma característica inerente à banda inglesa. Apesar disso, e dos conflitos existentes entre os dois membros da banda, a criatividade de ambos é um dos fatores que não pode deixar de ser falado, especialmente neste álbum tão único e irreverente. A performance dos artistas culmina no unir de duas forças que dão origem a um resultado final que promete ficar na memória e ganhar um lugar de destaque na discografia dos The Who.
Posto isto, não será difícil de concluir que bandas antigas ainda podem e conseguem fazer da sua arte musical algo de diferente e surpreendente.