Sob a direção de Michael Cristofer, Gia conecta emocionalmente o espectador à top model que nada mais queria senão ser amada. É a história de uma vida que se perdeu demasiado cedo nos vícios do mundo da moda. A narrativa, intercalada com testemunhos e passagens do diário da própria modelo, assume um tom intimista, tornando-se difícil desviar o olhar.

Gia Carangi, natural de Philadelphia, ascendeu rapidamente, sob a promessa de se tornar primeira top model a nível mundial. Como a própria diz: “Eu não me construí para ser uma modelo. Eu simplesmente me tornei uma”. Durante a sua curta carreira, a jovem caiu no mundo das drogas, que usava para combater as suas angústias e necessidade de amor. A sua maior paixão, a artista de maquilhagem Sandy Linter, Linda na longa-metragem, caracterizou a modelo como um “cachorrinho, sempre a pedir amor”.

Gia

No entanto, a altura da glória da modelo tornou-se também no palco da sua queda. Após contrair SIDA de uma agulha com a qual se injetara, Gia passa os seus últimos dias no hospital e acaba por falecer aos 26 anos.

A protagonista é interpretada por uma jovem Angelina Jolie, que se destaca dos seus companheiros. A sensibilidade exigida para a representação da personalidade irreverente e destroçada da modelo foi assegurada pela performance esmagadora da atriz. À exceção de Mercedes Ruehl (mãe de Gia) e Faye Dunaway (Wilhelmina Cooper), o elenco não conseguiu acompanhar o ritmo marcado pela americana, que captou as mais pequenas singularidades da sua personagem.

A escolha para o tratamento da narrativa foi algo de inovador e inteligente, que obrigou o público a conectar as peças do puzzle no final. Ao longo do filme, são incluídos testemunhos pronunciados pelas personagens sobre a modelo. Estes refletem o mistério e duplicidade da jovem, visto que as afirmações sobre a mesma diferem de pessoa para pessoa. Esta estratégia permite retratar as nuances de Gia de forma subtil, expondo o seu caráter multilateral. Para além disto, apresentam-se fragmentos “soltos” do seu diário que acabam por revelar, no final, que a protagonista sempre acreditou que teria um final trágico.

Gia

A cinematografia e a banda sonora são aspetos que ficam aquém das expectativas. Apesar do ano da sua realização, 1998, e do período que pretendia retratar, anos 70 e 80, a qualidade da imagem e das mudanças de cena poderiam ter sido mais polidas, de forma a tornar a experiência de visualização mais confortável para o público. A música, por outro lado, despiu-se de intensidade e sentimento, o que contribui para uma monotonia que facilmente poderia ter sido evitada. Momentos fortíssimos da atuação de Angelina Jolie são enfraquecidos pela banda sonora anti-climática.

Apesar de Gia não representar uma obra-prima cinematográfica, é claramente movida pela narrativa e pela urgência de contar a história de alguém que marcou o mundo da moda. Trata-se de uma narrativa verídica de uma vida que prova que o dinheiro não é tudo. E, mesmo sendo um filme biográfico que fica longe do documentário, não deixa de ser um trabalho imersivo que se vê facilmente.