Harley Quinn (Margot Robbie) está de volta aos ecrãs num ambiente colorido, divertido, claro e caótico. Cathy Yan, realizadora de Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação De Uma Harley Quinn), consegue criar um filme repleto de personalidade, carisma e representatividade, sem sufocar a história.

Finda a sua relação com Joker, Quinn sente-se perdida e alimenta a sua tristeza com largas doses de álcool e saídas noturnas. É nesse contexto que encontra Roman Sionis (Ewan McGregor), o Máscara Negra, vilão da narrativa. Quando este decide capturar a jovem carteirista Cass (Ella Jay Basc) após esta roubar um diamante, Gotham fica virada do avesso.

Birds of Prey

Enquanto “Romy” tenta encontrar a jovem, os caminhos de Harley, Huntress (Mary Elizabeth Winstead), Black Canary (Jurnee Smollett-Bell) e Renee Montoya (Rosie Perez) cruzam-se. No entanto, estas não percebem imediatamente que mais tarde se irão aliar para derrotar o vilão e salvar a jovem.

A longa-metragem é narrada do início ao fim por Harley Quinn, acompanhada por demasiados flashbacks que por vezes tornam a narrativa confusa. Apesar disso, a Princesa Palhaça do Crime consegue oferecer à produção narrações e diálogos com os pontos de humor necessários e suficientes para se manter o equilíbrio esperado.

Birds of Prey retrata exatamente a emancipação da protagonista e o fim da sua submissão a Joker. Chama ainda à atenção para temas como a vingança, o machismo e a violência presentes no universo de cada personagem. Procura abordar o poder da força feminina, a superação e a independência. Contudo, revela-se uma obra nada politizada ou “militante” e o tema nunca atrapalha o facto de ser uma obra de entretenimento.

Birds of Prey

Gotham transforma-se numa cidade cheia de cor, onde o ambiente mais sombrio é construído em volta do vilão, Roman Sionis. Durante a narrativa, vão surgindo diferentes histórias que, de alguma forma, acabam por se conectar à principal. Ficamos a conhecer um pouco sobre cada uma das mulheres, principalmente sobre o que as atormenta e sobre as dificuldades que ultrapassam. O filme mantém ainda tudo muito real, de forma que seja possível uma identificação plena com as personagens, especialmente por parte do público feminino.

O tema problemático abordado contrasta com um visual muito colorido e brilhante, desde o guarda-roupa às armas usadas por Harley Quinn. Associado a isto, temos também a banda sonora criada por Daniel Pemberton, que acompanha a ação de forma excelente. Tudo está em perfeita harmonia, desde a fotografia, de Matthew Libatique, ao design de produção, de K. K. Barrett.

Birds of Prey

Cathy Yan dá uma grande lição de produção cinematográfica. Com o uso de coreografia detalhada, criou cenas de luta e ação realistas e bem trabalhadas. Nenhum momento mais violento possui elementos demasiado gráficos, mas sim humorísticos e femininos. Um exemplo disso é quando vemos Quinn a lançar um elástico de cabelo a Black Canary, durante um confronto físico. O trabalho revela-se bastante diversificado e apelativo. Tudo acontece naturalmente, sem se tornar aborrecido, o que força o espectador a estar atento.

Margot Robbie destaca-se pela sua performance. A atriz encaixa perfeitamente na personagem e veste Harley Quinn de forma esplêndida. Desde a forma como fala aos seus movimentos e aparência, podemos afirmar que a australiana nasceu para este papel. Também as suas companheiras trazem ao filme uma lufada de ar fresco. São capazes de, em pouco tempo e com poucos detalhes, revelar a verdadeira essência das personagens que interpretam.

Com uma trama relativamente simples, Bids of Prey simboliza a mulher independente e a reconquista do seu espaço e liberdade. Apesar de unidas serem mais fortes, individualmente são capazes de lutar contra todos os desafios. Os diamantes podem ser os melhores amigos de uma mulher, mas não há nada melhor do que ela saber do que é capaz.