A peça contou com alterações face ao texto original.

Esta sexta-feira, dia 7 de fevereiro, a Companhia de Teatro de Braga levou ao Theatro Circo uma interpretação do “Auto da Barca do Inferno”. A sessão fez parte de uma temporada de sete espetáculos que decorreram ao longo da última semana.

A peça teve como base os textos clássicos de Gil Vicente. Daí segue-se a conhecida trama: personagens-tipo de grupos sociais encontram-se no pós-morte e são julgados pelos seus pecados. O enredo é utilizado por encenadores há mais de quatro séculos para criticar a sociedade portuguesa. No entanto, em vez da esperada estética de purgatório, o palco encontrava-se desenhado como uma favela. Grande parte das personagens apresentava-se igualmente caracterizada de acordo com o espaço.

Nesta peça encontramos as figuras conhecidas do Diabo, o Anjo, o Fidalgo e Brizida Vaz, entre outras. A figura do Judeu também marcou presença. Nesta reinterpretação encenada em 2020, foi mantida a cena em que o Judeu é tão odiado por todos que nem no Inferno é inteiramente desejado. Há, no entanto, inovações levadas a cabo pelo encenador Rui Madeira, por exemplo, a quantidade de referências a elementos fálicos, de cópula e masturbação.

Um dos maiores desvios do original “Auto da Barca do Inferno” é levado a cabo na cena dos cavaleiros cristãos. Estas personagens são substituídas por um coro religioso que é integrado por Donald Trump, Kim Jong Un, Vladimir Putin e Jair Bolsonaro. A situação foi um dos vários momentos cómicos que elevaram a energia da sala. Muitas das ocorrências cómicas eram as inatas da própria obra de Gil Vicente, outras foram agora adicionadas pelo trabalho da Companhia de Teatro de Braga.

No geral, a interpretação do “Auto da Barca do Inferno” teve uma resposta pontual por parte do público. Apesar de parecerem satisfeitos com a encenação, nem sempre a sala reagiu aos momentos cómicos ou músicas. O silêncio reinou no decorrer no espetáculo, mas, no fim, os atores tiveram direito a uma longa salva de palmas.

O evento teve lugar no Theatro Circo. A sala de espetáculos foi inaugurada em 1915 e tem sido desde então o palco de alguns dos maiores projetos do país.