Os oradores analisaram, entre outros temas, o papel da União Europeia e o trabalho desenvolvido em Portugal face à crise mediterrânica.
O café-debate “Give Me a Voice”, organizado pelo Centro de Estudos do Curso de Relações Internacionais (CECRI), realizou-se, esta terça-feira, no Café Pão de Forma. O evento contou com a presença dos oradores Tito Matos, Carlos Nolasco e João Casqueiro e da moderadora Bárbara Gomes, do CECRI.
Carlos Nolasco, investigador na Universidade de Coimbra, começou por elogiar a “pertinência” do tema. Criticou a perda de mediatismo da crise dos refugiados, pois “deixou de abrir telejornais”, exemplificando com a situação do navio “Open Arms” e do processo de Miguel Duarte.
Por ser um tema pouco falado, não havia muita gente em Portugal a trabalhar com e sobre refugiados antes de 2015. Nesse ano, o cenário mudou por questões éticas. “O drama está associado a alguém que tem de deixar o país de origem e procurar refúgio”, afirmou Carlos Nolasco. A decisão deve-se à vivência num quotidiano de probabilidade de morte e acarreta a certeza de deixar a família, amigos, casa, religião e língua. “Não há refugiados por capricho”, rematou.
O sociólogo admite que a Europa não estava preparada para enfrentar este dilema. No entanto, em Portugal, apesar da crise económica e de se achar ser uma porta para o terrorismo, “o medo perdeu em relação a uma dimensão humana”.
Tito Campos, vice-presidente do Conselho Português para os Refugiados (CPR), explicou, essencialmente, o trabalho da ONG. Expôs alguns dados, nomeadamente, os 1.700 pedidos de asilo recebidos no ano passado. Os desafios para a integração dos refugiados na sociedade portuguesa passam pela habitação, a aprendizagem da língua e o reconhecimento e certificação das suas competências. “Gasto para a sociedade não é verdade, mas é verdade que alguns precisam de ajuda na integração”, conclui.
No seu discurso, João Casqueiro, professor na Universidade Fernando Pessoa, reforçou as ideias expostas anteriormente. Para o professor, apesar da boa preparação de muitos países da União Europeia, o fracasso deveu-se à falta de boa vontade e de boa organização. Face ao racismo, assume que é necessário preparar o futuro começando pela educação e, se necessário, pela intervenção estadual. João Casqueiro desafiou os estudantes a “não se deixar cair na passividade e ter a coragem de querer mexer as coisas”.