Barcelos foi a última cidade na digressão que percorreu várias cidades da Europa.
A banda barcelense atuou, no passado sábado, no Pavilhão Municipal de Barcelos. De regresso a casa, falaram com o ComUM e partilharam aquilo que foi a sua experiência até agora. Gator, The Alliagator chegam ao fim da sua tour europeia, mas já estão prontos para apresentar o novo álbum.
O grupo conta com Eduardo da Floresta na guitarra, Ricardo Tomé no baixo, Filipe Ferreira na bateria e a voz pertence a Tiago Martins, que também toca guitarra.
ComUM – Como surgiram os Gator, The Alligator?
Ricardo Tomé – Como somos de Barcelos, já nos conhecíamos todos há relativamente algum tempo. O Tiago e o Eduardo tinham outro projeto e eu e o Filipe tínhamos outro. Já tínhamos até feito concertos em conjunto, só que chegou a um ponto em que esses dois projetos acabaram e nós estávamos os quatro sem nada para fazer enquanto banda, digamos assim, e então pronto… Em conversa de tasca decidimos juntar-nos, começar a tocar e víamos o que dali saía. Juntamo-nos, correu bem e fomos continuando a fazer isso até hoje.
ComUM – Qual a razão do nome da banda?
Tiago Martins: Queríamos ter uma personagem para representar a banda. Queríamos ter alguém que contasse as histórias e que passasse as mensagens que nós queríamos transmitir. Acabamos por escolher o alligator (jacaré), porque achamos que são animais ferozes, mas que podem ser quase domados e ser animais de estimação, apesar de haver grande probabilidade de nos arrancar a cabeça (risos). Este é um animal que podes criar desde pequenino, como vemos em muitas quintas na América e o crocodilo não, é um animal completamente selvagem. Por isso, acabamos por escolher o jacaré, por ser uma representação daquilo que é o nosso som, que tem a parte da força, a parte da eletricidade, da energia e ao mesmo tempo tem o lado mais soft e chill, mais à vontade que dá para transmitir outras emoções.
ComUM – O álbum “Life Is Boring” tem como ideia principal a repetição de momentos e sentimentos da vida quotidiana. Poderá também fazer algum tipo de crítica à sociedade em que vivemos?
Tiago Martins – Sim. É uma crítica à estagnação e à conformidade. Foi a maneira que nós arranjamos de representar um bocado o nosso momento naquela altura das nossas vidas em que estava tudo estagnado, tudo parado. Nós queríamos fazer alguma cena e queríamos lutar um bocado contra isso e, então, criamos esse contrassenso do “Life Is Boring”. Assumimos isso como o nosso primeiro álbum e criamos aqui este contrassenso com aquilo que nós fazemos em palco e com a nossa performance, com aquilo que são as nossas músicas. Brincamos um bocado com isso e com essa energia. Quisemos quebrar um bocado dessa rotina de a vida chata.
ComUM – Quais são as dificuldades de ser uma banda descentralizada, ou seja, estar fora dos grandes polos de atividade musical, como Lisboa e Porto?
Filipe Ferreira – É um imputo para fazermos melhor. Dá mais vontade de continuar.
Eduardo da Floresta – Eles têm um bocado aquele universo, mas também se passam mais coisas fora deles. Sente-se muito aquele foco mais em Lisboa e no Porto, mas também existe muito boa música fora.
Tiago Martins – Sim. Também é fixe sentires essa dificuldade de chegares a esses sítios e é espetacular quando finalmente chegaste lá. Quando vamos tocar numa cidade como, por exemplo, o Porto. Ficamos felizes por saber que entramos num dos grandes focos da música. Viemos de um caminho, supostamente, que não acredito que seja assim, mais “de baixo”, por causa dessa questão da centralização e é fixe sentir que conseguimos chegar mais longe. Pensamos “Ok, conseguimos chegar aqui. Afinal não são só vocês que têm esse monopólio”. A comunidade em Barcelos tem uma cena musical que é incrível, é das melhores cidades musicais em Portugal. Ainda agora, durante a tour, falaram-nos sobre as bandas de cá.
Eduardo da Floresta – Em todas as entrevistas, quando falávamos em Barcelos, mencionavam logo a parte de termos muita boa música.
ComUM – Numa entrevista, disseram que fazer uma tour europeia foi sempre o objetivo da banda. Como é que se sentem por terem conseguido crescer e cumprir esse vosso sonho?
Ricardo Tomé – Nós temos vários objetivos, vários steps para darmos o check. A partir do momento em que este está concretizado vamos já pensar qual é o próximo objetivo a que queremos chegar, onde queremos ir a seguir. Não é por termos alcançado isto que agora vamos parar. Acho que nunca estamos totalmente satisfeitos com o que temos.
Filipe Ferreira – Essa insatisfação é que nos faz mover. Estabelecer estas etapas faz-nos crescer e ficar sempre melhores.
Tiago Martins – Claro que há dois anos não imaginava que ia estar aqui.
Ricardo Tomé – Claro, são etapas que tu nunca te apercebes que estás a passar por elas e nem pensavas ser possível.
Tiago Martins – São aquelas etapas que nunca sentimos o impacto no momento. Nós chegamos agora da tour e para nós foi uma cena incrível, foi uma experiência espetacular. Andamos a viajar um bocadinho por todo lado destes países onde fomos, mas só nos vamos aperceber do impacto que teve em nós só daqui a algum tempo. Estamos sempre a viver o momento, aproveitamos os sítios onde estamos e depois vamos também aproveitar de estar aqui, que é o nosso regresso a casa. Se calhar, mais tarde é que vamos perceber: “Nós fizemos uma tour europeia”. Talvez só quando estivermos a planear outro objetivo é que nos vamos aperceber disto tudo. Estamos sempre a tentar subir um bocadinho.
ComUM – Fazendo agora uma retrospetiva na vossa carreira, qual acham que foi o momento que marcou a banda e que fez com que estivessem a um passo mais perto da concretização desta tour?
Tiago Martins – Foi uma noite no Xano a beber uns copos (risos).
Ricardo Tomé – Foi para aí numa terça.
Tiago Martins – Foi numa terça à noite. Estávamos em frente à Rua da Palha, à beira do banco. O café já tinha fechado. Já tínhamos sido expulsos e estávamos só ali a falar uns com os outros. Acho que esse foi o momento mais importante, porque foi quando criamos a banda.
Eduardo da Floresta – Sim, mas acho que também foi o Bons Sons. Em termos de carreira, o que sentimos mais “peso nas costas” foi quando fomos atuar lá.
Filipe Ferreira – Foi esse que teve mais impacto a nível de produção.
Tiago Martins – A cena do Termómetro também foi fixe. Mas é essa tal questão de só percebermos o impacto das coisas depois. Nós tivemos o prémio de Melhor Banda Portuguesa no Termómetro, mas só quando tocamos no Bons Sons é que tivemos perceção do que tínhamos ganho anteriormente. E só ao fim de algum tempo é que paramos e pensamos “O Bons Sons foi incrível”.
Eduardo da Floresta – Só quando novas portas se abrem é que tu percebes que essa nova oportunidade surgiu por causa do que fizeste antes. Acho que é mais isso.
ComUM – Este é dos últimos ou até mesmo o último espetáculo desta vossa grande jornada. Relembrando todos os momentos, o que é que mais vos marcou nesta viagem pela europa?
Filipe Ferreira – Não dá para escolher.
Eduardo da Floresta – O sul de Espanha é lindíssimo.
Tiago Martins – Foi hoje em Valença, que comemos um bife de novilho mesmo bom.
Filipe Ferreira – Primeira refeição mesmo à portuguesa. Que saudades da comida de Portugal.
Ricardo Tomé – Devíamos ter escrito um diário, porque estou aqui a tentar, mas não consigo lembrar-me de nenhum.
Filipe Ferreira – Houve muitas coisas diferentes, mas sempre tudo espetacular.
Eduardo da Floresta – Bélgica foi fixe. O concerto foi muito bom.
Tiago Martins – Bruxelas foi a experiência mais fixe.
Filipe Ferreira – Sim, foi, sem dúvida, a mais marcante.
Tiago Martins – Desde o concerto, o backstage, desde a comida à receção. Foi o mais marcante, se calhar. Em Pedreguer foi quase sentires-te em casa. Os concertos em Espanha tinham sempre o pessoal mais efusivo. São espanhóis, só estão bem a vivê-las (risos). Mas Bruxelas foi o mais engraçado.
ComUM – Porque é que escrevem só em inglês?
Tiago Martins – Estamos a guardar o português para mais tarde. E, assim, passamos a mensagem a mais gente. Se queres tocar músicas aqui em Portugal, dás dez concertos e já atuaste no país todo. Assim, em inglês, conseguimos ir lá para fora e fazer com que a mensagem chegue a mais pessoas. Passamos a mensagem em inglês, mas ela é portuguesa. Usamos expressões portuguesas para passar o que queremos dizer… E, às vezes, essas expressões não funcionam tão bem em inglês e por isso brincamos um bocadinho com isso. E assim também temos sempre o português na manga.
ComUM – Podemos esperar o novo álbum para 2020?
Eduardo da Floresta – É assim, podem esperar até para o mês que vem.
Filipe Ferreira – Que direto (risos).
Tiago Martins – Esperem, esperem. Ricardo estão aqui perguntar para quando é o novo álbum.
Ricardo Tomé – Opá, estive aqui a pensar e acho que vai ser no 9 de abril.