Circles é o sexto álbum de estúdio de Mac Miller e primeiro póstumo. Falecido a 7 de Setembro de 2018, após uma overdose acidental de drogas, Miller ressurge, no álbum, no meio de um caos mental. O projeto foi deixado quase pronto e foi finalizado pelo produtor Jon Brion, com autorização da sua família.
Miller e Brion trabalharam juntos em Swimming, o último disco do cantor lançado antes da sua morte. Conceitualmente há uma relação entre os dois trabalhos, que juntos deveriam ser interpretados como “Swimming in Circles”.
Na primeira faixa e single principal, “Circles”, o rapper soa despedaçado. Fala sobre como acaba sempre no mesmo lugar, como se a vida corresse em círculos e ele não conseguisse escapar. “I just end up right at the start of the line/Drawin’ circles”.
Os versos têm também duplo sentido uma vez que era claro em entrevistas e letras de outras músicas que o artista tinha problemas com cocaína. Com uma produção extremamente minimalista, Mac não rima e também quase não canta, parece mais que está a recitar poesia. A música é também uma referência ao último verso de “So it goes” do trabalho anterior, “My god, it go on and on/ Just like a circle, I go back to where I’m from”.
“Blue world” conta com uma produção carregada de otimismo, de autoria de um dos membros do duo Disclosure, Guy Lawrence. Na faixa, Mac reflete sobre as aflições da sua vida. Faz claramente referência Ariana Grande, ex-namorada. O sample usado “It’s a Blue World”, de The Four Freshmen salienta o quanto o mundo é triste sem ela, ou quando se lembra com uma breve felicidade contagiante: “See, I was in the whip, ridin’, me and my bitch/ We was listenin’ to us, no one else, that’s it”.
“Good news” é indubitavelmente uma das faixas mais intimista, solitária, vulnerável e emocional que alguém pode escutar. O primeiro single oficial após a morte é a peça central de Circles e resume na perfeição o sentimento geral que assombra todo o álbum.
Mesmo sem saber, o rapper escreveu a mais autêntica carta de despedida que dele se poderia pedir sobre um instrumental propositadamente preguiçoso. Na metade final da faixa, Miller canta esperançoso: “There’s a whole lot more for me waiting on the other side”, como se aceitasse o seu final trágico.
“I Can See” é extremamente melódica e “Everybody” conta com o piano gradativamente crescente e contagiante. Ambas procuram estabelecer um diálogo sobre sensações mundanas e análises sobre breves momentos de felicidade. Mostra que ela existe, mesmo no meio do sofrimento. Na verdade, o trabalho de escrita de Malcom ganha força precisamente por esses momentos serem raros.
Uma das maiores surpresas de Circles, é a segurança com que Miller se assumiu mais como um cantor completo e menos como um singelo rapper. É até lindo ver o lado cantor/compositor de Mac florescido.
A viagem de Circles termina com a introspetiva “Surf” e a balada gentil “Once a Day” na qual indaga: “I wonder what they know/ I wonder if they ever even cared at all?”. São o fecho ideal e esperado para esta experiência coesa e linda.
Jon Brion merece todos os elogios do mundo por acabar o álbum da maneira mais aproximada do que imaginamos que Mac gostaria. É de certa forma reconfortante saber que durante a construção dessas músicas, ambos dividiram momentos íntimos e vulneráveis enquanto compunham.
Circles é tristemente bonito. Soa ainda mais doloroso depois de sabermos que Miller perdeu a guerra emocional. Como canta em “Complicated”: “Some people say they want to live forever/That’s way too long, I’ll just get through today”.
Artista: Mac Miller
Álbum: Circles
Data de lançamento: 17 de Janeiro de 2020
Editora: Warner Records
Agosto 5, 2021
Parabens pela analise sincera. O mundo deveria ouvir Malcolm.